Em 1974, dois psicólogos, Elizabeth Loftus e John Palmer, conduziram uma série de estudos, no seguimento de outros trabalhos anteriormente realizados por Bird em 1927, Marshall em 1969 e Filmore em 1971, para ajudar a compreender os aspectos psicológicos por detrás da memória das pessoas para determinados eventos. Nomeadamente, como é que as pessoas recuperam a informação respeitante a uma situação que envolveu um acidente automóvel? Isto porque, o acidente automóvel, já por si só considerado uma situação desagradável e inclusive traumática, pode ter alguma coisa a ver com o comportamento menos responsável do condutor, que poderia estar a circular a uma velocidade acima do permitido por lei. No estudo da Loftus e Palmer, eles perguntavam aos participantes, mediante a apresentação de determinada informação, "Qual a velocidade com que os carros iam quando [________] um no outro?" Sendo que no espaço em branco da frase anterior colocavam a palavra esmagou, colidiu, bateu ou tocou. E repararam que quando usavam verbos mais dramáticos, tal como esmagou, os participantes tendiam a estimar a velocidade dos carros como superior. E uma estimativa bastante mais inferior quinado o verbo utilizado era tocou. E toda esta retórica acerca de experiências do século XX para quê, perguntarão alguns? Muito frequentemente se pensa que as pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo não têm competências para se tornarem condutores encartados. E que aqueles que conseguirem obter a sua carta de condução serão mais propensos a acidentes e outras situações semelhantes. Um estudo retrospectivo, analisou as pessoas nascidas entre 1987 e 2000 em New Jersey e que era pacientes do Hospital Infantil local. Esta mesma informação foi cruzada com informação respeitante à obtenção da carta de condução e registo de acidentes. Foram selecionadas as pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo, excluindo aqueles que apresentassem cumulativamente um défice cognitivo. Os quase 500 autistas selecionados foram comparados com os seus pares não autistas em relação às mesmas variáveis. Aquilo que os dados nos ajudam a compreender é que os adultos autistas comparativamente aos não autistas tiveram em condições semelhantes menos acidentes ou contra-ordenações rodoviárias. E naqueles que se viram envolvidos em acidentes rodoviários, os adultos autistas foram aqueles que em menor número tiveram uma condução perigosa. Voltando à experiência da Loftus e do Palmer, na segunda parte da experiência perguntavam aos participantes se tinham verificado existir alguns vidros partidos no video que tinham visionado acerca do acidente. E aqueles participantes que tiveram o verbo esmagado na primeira parte da experiência, afirmaram com maior certeza de que tinham visto vidros partidos, sendo que no video não havia nenhuns. São muitos os jovens, nomeadamente aqueles com uma Perturbação do Espectro do Autismo, que chegados aos 18 anos de idade, passam a manifestar desejo em tirar a carta de condução. Tal como nos resultados deste estudo, é importante perceber que os candidatos autistas à carta de condução apresentam condições e um perfil de funcionamento que lhes permite chegar lá. Precisam de ser avaliados nestas competências de uma forma adequada e orientados ao longo do processo.
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