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Um espectro da paternidade

Sempre que vou à reunião da escola dos meus filhos, quase sempre sou o único homem!, diz Júlio (nome fictício). Há uns meses inscrevi-me num grupo de auto-ajuda para pais com crianças com Perturbação do Espectro do Autismo e era o único homem!, acrescenta Paulo (nome fictício). Júlio e Paulo são dois adultos, pais de crianças com Perturbação do Espectro do Autismo. O Júlio também é autista. A companheira do Paulo abandonou-o e aos dois filhos há seis anos. O Paulo tem dois filhos com diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. A Carla (nome fictício) com 10 e o Vasco (nome fictício) com 8 anos. Foram tempos difíceis, recorda o Paulo. A companheira do Júlio tem uma actividade profissional mais exigente e que lhe consome mais do seu tempo durante a semana. E além disso, eu quero que os meus filhos sintam que eu sou um pai presente, partilha Júlio. A parentalidade com uma criança com uma perturbação do neurodesenvolvimento é mais exigente e vai para além de uma situação de partentalidade normativa. E como tal, são muitos os pais que vêm como sendo um beneficio poder participar em grupo de suporte. Estes grupos têm normalmente uma estrutura informal e são facilitados pelo apoio dos pares. Normalmente são concebidos para fornecer suporte emocional e social, informação, educação, e oportunidades de networking. E são baseados na filosofia de que a pessoa mais eficaz para providenciar suporte é aquele que tem uma experiência similar. Estes grupos costumam ser fáceis de implementar e a investigação realizada sobre a sua eficácia demonstra que há uma visão positiva partilhada pelos pais em relação à sua existência. Até porque os pais referem que estes grupos os ajuda a reduzir o fardo emocional sentido, assim como o maior isolamento e exclusão social a que se vêm votados. Contudo, verifica-se que a grande maioria destes grupos funciona com a participação de mães e não de pais. A representação dos papéis de género atribuídos às mães e aos pais de forma diferenciada ao longo destes anos ajuda a compreender o porquê desta situação. E quando ouvimos os pais, não apenas nestas situações especificas, sentimos que há uma sensação de desprotecção e que leva a justificar a importância do seu cuidar. Atendendo às mudanças dos papéis de género na parentalidade, tem sido cada vez mais visível estas situações. Ainda que seja pouco compreensível em como estimular a participação dos pais nestes processos e de que tipo de informação providenciar-lhes. Além de haver evidência de que os pais parecem necessitar de um apoio psicológico diferenciado das mães. Por exemplo, os homens parecem evitar expressar directamente os sentimentos devido à ideologia tradicional da masculinidade, preferindo mais actividades físicas. Contudo, para os pais, poderem estar em grupos de suporte com outros pais, e principalmente com pais com filhos com uma perturbação do neurodesenvolvimento, leva-os a sentir uma experiência de reconhecimento, validação e suporte. O facto de não terem que explicar todas as situações existentes na vida de um pai com uma criança com uma perturbação do neurodesenvolvimento é facilitador. Associado a isso, o facto de não se sentirem incompreendidos e/ou julgados nos seus papéis de pais é um factor preponderante. Até porque alguns pais referem já ter passado por grupos de apoio em que os membros eram maioritariamente mulheres (mães) e sentiram menos compreensão e empatia por parte do grupo. A sensação de serem simplesmente compreendidos, sem terem que explicar as coisas de uma forma muito mais difícil para si e diferente daquilo a que estão habituados é importante. Sendo que isso é um sentimento igualmente partilhado pelas mães. A experiência de pertencer a um grupo de suporte constituído por outros pais ajuda a normalizar os sentimentos e a experiência de paternidade. Haver uma maior facilidade no processo de comunicação e nãos sentirem maior constrangimento, tal como sentido em muitos grupos heterogéneos, leva estes pais a sentirem um ligação mais profunda nestes grupos. Algo mais uma vez sentido pelas mães quando estão em situação semelhante. Muitos destes pais estão conscientes da pressão social para o papel social que lhes é atribuído e apesar de poderem não o demonstrar é sentido ao longo do processo e igualmente limitador. O facto de sentirem maior liberdade de poderem apreender a vivência da paternidade, desprovida destes constrangimentos, leva-os a sentir e experiência vivências emocionais mais intensas que julgavam não ser possível. Além do mais, estas mesmas experiências parece faze-los aproximar e compreender de forma diferente o papel das suas companheiras. Além de os fazer sentir que estão a aprender de uma forma mais plena aquilo que significa ser pai de uma criança com Perturbação do neurodesenvolvimento.


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