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Toma um Kompensan

Azia? Sensação de queimadura no estômago? Enfartamento? Estes e outros sintomas já os sentimos uma ou outra vez na vida. Tal como nos dias actuais todos parecem ser fotógrafo de carreira. Basta escolher neutralizar o efeito de algo, normalmente negativo, com uma acção ou medida positiva. Mas não o somos! No autismo no adulto ocorre um fenómeno semelhante. Ora veja.

Porque é que tenho de estar com esta ou aquela outra pessoa? Porque sinto a necessidade de agir ou me comportar desta ou daquela maneira? Estou certo que também já se perguntou acerca destas outras questões! Pois bem, a maneira como reagimos às situações ou pessoas equivale a um processo de compensação. Ou seja, é comum que uma pessoa que percepcione ter uma qualquer dificuldade, por exemplo, baixa auto-estima ou ansiedade social, se procure refugiar realizando um outro comportamento, por exemplo, comer, beber, fumar, jogar, etc. Isto é, todos estes exemplos servem como uma forma de obter prazer para anular a sensação de mal estar causado pela dificuldade percepcionada. Este comportamento de compensação é comum em todos nós. E no autismo também ocorre e tem-se verificado que o mesmo parece estar a causar algumas dificuldades.


A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é geralmente identificada por médicos durante a infância. No entanto, um número crescente de pessoas está a ser diagnosticada com esta condição na idade adulta. Um diagnóstico por si só, e mais especificamente, um diagnóstico de PEA na idade adulta pode ser desafiador. Isto porque muitos adultos intelectualmente capazes desenvolveram estratégias psicológicas "compensatórias" para lidar com suas dificuldades. Estes podem esconder os seus sintomas de médicos, psicólogos, empregadores e até mesmo membros da família.


Por exemplo, uma pesquisa recente descobriu que muitos médicos de clínica geral e familiar no Reino Unido não estão confiantes em sua capacidade de identificar o autismo. E as estratégias compensatórias são agora consideradas uma das principais razões para a dificuldade de diagnóstico em adultos. A avaliação continua muito frequentemente a ser realizada exclusivamente com base nos critérios de diagnóstico da DSM 5. Ou então com base em informação que não corresponde sempre à realidade. Por exemplo, se estabelece contacto ocular, sorri ou tem amigos então não pode ser autista! A investigação que tem continuamente sido realizada nesta área parece necessitar de um maior imput dos próprios autistas adultos. Isto porque quando estes se dirigem aos médicos para realizarem uma avaliação parece que alguma desta sua informação não está a ser tida em conta no processo de diagnóstico.


É muito frequente, apesar das dificuldades de generalização de determinado comportamento, observar que ao fim de algum tempo, os autistas passem a adoptar estratégias compensatórias. Seja porque têm um perfil cognitivo e intelectual que o permita ou porque determinados comportamentos foram trabalhados em intervenção em número e qualidade suficiente. Por exemplo, através do treino de competências pessoais, sociais e funcionais. Frequentemente relatam copiar gestos com as mãos, contacto visual e expressões faciais de outras pessoas, e aprender a rir de piadas, mesmo quando não as entendem. Alguns dos meus clientes e eu próprio já ouvimos frases como - "Se eu agisse como aquela pessoa ali, ninguém saberia que eu estava a lutar com dificuldades por dentro...ou... Fiz listas mentais das coisas que eu tinha que lembrar de dizer ou fazer."


Muitos avaliam mesmo que as suas estratégias compensatórias são uma das principais razões pelas quais o autismo não foi diagnosticado na infância e porque as suas dificuldades continuaram a ser negligenciadas por outros. Muitas pessoas, principalmente que não conheçam mais profundamente o autista expressam surpresa por saber que ele o é. Quase sempre isso não é sentido como um elogia. Muito pelo contrário, muitas vezes aquilo que sentem vontade de dizer é - "Se tu soubesses o quanto é dificil para mim tentar ser normal e integrar-me!". Uma outra questão normalmente sentida é o gasto de energia ao usarem estas estratégias compensatórias. Sentem que não conseguem ficar mais tempo nas situações ou quando chegam a casa sentem não ser capazes de fazer mais nada.


Mas muitas destas estratégias compensatórias também levam a que muitos dos autistas consigam ter um maior nível de autonomia e independência. Ainda assim é fundamental poder compreender o nível de dificuldades e mal estar psicológico associado. As seguintes frase são exemplo de algumas dessas situações vividas no quotidiano.

Eu desejo fortemente a amizade, mas estou ciente de que não sou muito boa em iniciá-la e ainda pior em mantê-la ... apesar da minha consciência, minha capacidade de neutralizar minhas fracas competências sociais, fico para trás. Em suma, agora eu sei que eu sou o problema, mas eu ainda não sei como me consertar muito bem.” (mulher diagnosticada com autismo aos 36 anos)

"Eu acho que poderia fazer "todas as escolhas certas"em situações sociais. Se ao menos eu pudesse escolher offline com mais tempo para refletir, mas as situações reais são muito mais complicadas." (homem diagnosticado aos 27 anos)


"É o que acontece cognitivamente, e não comportamentalmente, e as pessoas não vêm isso. É frustrante porque eu não ... recebo o apoio necessário nem eles entendem que eu preciso." (mulher diagnosticada aos 40 anos)

Temos muitas dificuldades e só porque nos escondemos não significa que elas não existam.” (mulher diagnosticada aos 48 anos)


O grande problema surgiu quando meus colegas passaram a candidatar-se a empregos e a estar no "mundo real". Eu sabia que nunca poderia realizar tarefas num escritório ou muito menos ser um consultor." (homem auto diagnosticado aos 47 anos)


Será importante que o próprio processo de diagnóstico possa ter espaço para integrar estes contributos que correspondem à realidade de muitos dos autistas adultos. E não partir do principio que apenas aquilo que consta na "bula" da DSM 5 é que significa ter autismo. Tal como em muitas caixas de medicamentos se pode ler - "Medicamento" não sujeito a receita médica. Leia atentamente o folheto informativo e em caso de dúvida ou de persistência dos sintomas consulte o seu psicólogo.

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