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O valor da vida

Deixa-me mostrar a vista deste lado, dizia-lhe Cláudia (nome fictício). Qual a diferença do que estivemos ainda agora a ver, responde-lhe Ana (nome fictício). Simples, retorquiu-lhe Cláudia. Tiveste de atravessar esta parede. Uma questão habitual de ser colocada pela pessoa adulta em relação ao diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo é sobre o seu valor. Para ou do que é que me vale ter o diagnóstico? O que é que ele me vai ou pode ajudar neste momento da minha vida? Como é que eu sei sobre a importância do meu diagnóstico? Estas e outras questão surgem, seja antes ou até mesmo algum tempo depois da pessoa ter o seu diagnóstico. A pessoa entra na vida adulta entre os 18 e os 24 anos de idade. Mas até então já houve vários acontecimentos importantes na sua vida, alguns deles mais traumáticos. Muitos terminaram a escolaridade obrigatória. Já viveram, na maior parte das vezes situações bastante difíceis. Algumas delas enquadram-se naquilo que é referido como bullying. Mas outras tantas situações vão muito para além disso. Sendo que o bullying vivido no Espectro do Autismo seja bastante intenso e impactante. Até à entrada na vida adulta já se viveu muitas manhãs em que não se percebe o porquê de continuar. Seja porque aquilo que se faz não parece fazer grande sentido ou lógica. Ou porque a lógica parece ser tão própria que não encontra ressonância em mais ninguém. Mas também porque a forma como está a ser sentido não parece ser motivador. Mas ainda assim muitos continuam. Mesmo que boa parte dos dias sejam sentidos ou pensados como não fazendo sentido. Pelo menos não daquela forma. Alguns foram levados ao Psicólogo. Normalmente, é mais no plural, aos psicólogos. Apesar de não perceberem qual a razão, ainda assim foram. Mas também não sentiram que a sua ida tivesse ajudado. E aos Médicos a mesma coisa. O Tony Attwood fala do diagnóstico no Espectro do Autismo como um alivio, recebido com alegria. Faz sentido esta proposta, ainda que seja fundamental que o diagnóstico da própria pessoa possa ter uma leitura e integração que faça sentido a si mesmo. E que a ajude a encontrar uma forma de fazer uma leitura daquilo que foi vivendo e que ainda planeia viver. Há quem sinta alivio, principalmente porque ao longo dos anos foi recebendo dos outros uma coleção de adjectivos bastante negativos em relação a muitos dos seus comportamentos. E agora, após o diagnóstico consegue ou tem a possibilidade de começar a pensar que a culpa de todos aqueles acontecimentos não foi sua. E que há uma explicação coerente para muitas das situações vivenciadas. Além de que muitas das outras pessoas com quem foram partilhando a vida também não a souberam compreender. Muitas coisas na vida da pessoa adulta no Espectro do Autismo vai continuar semelhante, mesmo após o diagnóstico. Aquilo que são as características reconhecidas na pessoa e que lhe conferem este diagnóstico vão-se manter. Mas alguma da ansiedade sentida em muitas destas situações passa a ser possível de ser gerida de forma diferente. Além da forma como a pessoa passa a poder compreender a sua identidade e a relação com o Outro.


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