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O F-R-A do autismo

O F-R-A do autismo não é apenas quando os jovens autistas procuram concorrer ao Ensino Superior. Ou quando tentam acabar com sucesso a sua formação superior. O F-R-A do autismo também é quando os professores universitários são eles próprios pessoas autistas. Isso mesmo, leu bem! Os professores universitários também são pessoas autistas! Também pode dizer ao contrário - As pessoas autistas também são professores universitários!


Mas se pensarmos, ter um jovem autista a concorrer ao Ensino Superior e pensar que precisa de solicitar a referenciação para a Educação Inclusiva é difícil para si e a vários níveis. Agora imaginem um professor/a universitário a solicitar junto da Instituição de Ensino Superior onde trabalha algum tipo de acomodações porque é uma pessoa autista?!


O Luís (nome fictício) e a Carolina (nome fítico), são ambos professores universitários. A partir da imagem nenhum de nós consegue perceber quem é a pessoa autista. E isso deve-se ao facto de o autismo não ser visível no rosto da pessoa. A frase pode ser absurda, na medida em que muitas pessoas que a vão ler irão imediatamente pensar - Obviamente que o autismo não se vê na cara! Mas muitas pessoas continuam a não saber isso, ou a pensar e a sentir isso. E quando estamos a falar de pessoas competentes do ponto de vista cognitivo e intelectual, como é o caso do Luís e da Carolina, muitas pessoas ficam com a ideia de que não faz sentido pensar em autismo em nenhum deles. O certo é que o Luís não é autista, mas a Carolina sim.


A Carolina está a ver uma mensagem de resposta que o Luís enviou para si no dia anterior. A Carolina desabafou com o Luís acerca da possibilidade de abandonar a Academia, porque sente que não está a conseguir lidar com toda aquela situação. Seja as questões sensoriais, as horas intermináveis nas reuniões que considera absurdas na forma como são abordadas, com gastos de tempo excessivos com conversa circunstancial. Mas também com os prazos de entregas de algumas coisas mais ou menos formais. E com as alterações súbitas que estão sistematicamente a acontecer e que para a Carolina não faz absolutamente sentido nenhum. Muitos poderão pensar que aquilo que está escrito faz parte do normal quotidiano de um/a professor/a universitário, certo? Compreendo, eu também já estive uns quantos anos enquanto professor universitário e sou empático com essa ideia. Mas também sou muito compreensivo relativamente ao que a Carolina sente.


A Carolina nem sempre quis ser professora universitária. Mas ao longo da sua formação e do acompanhamento psicológico que foi fazendo depois do seu diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. A Carolina começou a construir a ideia de que a carreira académica lhe fazia mais sentido. Isto porque assim poderia realizar muito do trabalho de investigação que tanto gosta. E neste tipo de trabalho estaria mais afastada do contacto com as pessoas numa base diária no seu local de trabalho se tivesse optado por outra solução. Mas o que a Carolina não estava a contar são as situações que foram descritas anteriormente e que estão a fazê-la ponderar sair da Academia. O Luís enviou-lhe uma mensagem a dizer que antes dela tomar alguma decisão poderiam ver quais as possibilidades em conjunto para que tal não acontecesse.


Ao considerar o início de uma carreira no meio académico, é importante ter uma compreensão abrangente de o que esse papel implica. As pessoas que consideram um papel académico enquanto percurso profissional deve garantir que está conscientes das competências necessárias, e os benefícios e desafios deste ambiente, e, se possível, encontrar oportunidades de experimentar o ambiente antes de se comprometer com um percurso profissional. Enquanto o conjunto de competências necessárias para o meio académico é um desafio para muitos que entram na profissão, pode ser particularmente difícil para as pessoas autistas que têm frequentemente um perfil cognitivo desigual com desafios em algumas áreas e grandes forças nos outros.


Como em todos os locais de trabalho, a Academia tem procedimentos, normas e regras não escritas/formais. Há etapas práticas para uma pessoa que podem ter em mente para aumentar as suas hipóteses de sucesso. Isto inclui desenvolver novas competências e aperfeiçoar as já existentes, aprender mais sobre a estrutura e os processos da instituição, identificação das medidas de sucesso na sua área de especialização e aprendizagem do currículo oculto.


Um elemento comum de muitas reflexões de pessoas autistas enquanto professores universitários é a importância de se envolver com as pessoas certas. Em todos os locais de trabalho, e também na Academia, é necessário fazer alianças. E quando pensamos nas pessoas autistas, ainda há quem considere isso como impossível ou até mesmo não desejado. E é importante ajudar as próprias pessoas autistas a desenvolverem essa consciência para sobreviver e prosperar no local de trabalho. E isso não tem nada de errado - ser uma pessoa autista e que sendo professor universitário opta conscientemente por desenvolver algumas aproximações para estabelecer essa rede. E não estamos a falar de camuflagem social ou de capacitismo. Estamos a falar de escolhas livres dos próprios, conscientes do que isso representa para si. Escolher o mentor adequado para desenvolverem o seu projecto é crucial para aqueles que consideram um grau mais elevado nos seus trabalhos de investigação. Devem procurar alguém que tenha interesse genuíno e especialização na sua área de investigação, mas também uma compreensão do autismo (ou da vontade de aprender), e uma abertura a formas autistas de pensar e de trabalhar.


Por mais importante que seja compreender o papel, as pessoas, a cultura e o ambiente, é também importante que a pessoa autista se conheça a si próprio. A investigação sugere que a pessoa autista é menos capazes de avaliar com precisão as suas próprias competências sociais e cognitivas, e tem menor auto-percepção global do que as pessoas não autistas. E isso não é um apontamento de incapacidade, mas sim de diferença. Uma compreensão clara dos seus forças e desafios ajudá-los-ão a navegar na academia, a valorizar as suas competências e a desenvolver as competências de que necessitam. Também os ajudará a saber quais são as oportunidades certas para eles e aquelas outras que os irá deixar em burnot.


É vital assegurar que, ao satisfazer as necessidades e expectativas dos outros, os académicos autistas não ignorem a importância das suas próprias necessidades. É fundamental pensar em aspectos como o autocuidado, tais como cuidar da saúde física e mental e manter equilíbrio trabalho-vida, bem como o equilíbrio trabalho-trabalho que é um desafio crescente dado a complexidade e as exigências de um ambiente competitivo de papéis académicos. Além disso é fundamental pensar em ajustar os horários para evitar sobrecarga e a sobrecarga física ambiente para reduzir o input sensorial.


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