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Mais vale encontrares-te tarde do que nunca

À Procura de Respostas


Muitas pessoas que hoje suspeitam estar dentro do espectro do autismo já percorreram um longo caminho de tentativas para se compreenderem. Ao longo dos anos receberam diagnósticos variados: ansiedade, depressão, perturbação da personalidade, fobia social, défice de atenção e, embora alguns desses rótulos descrevessem partes da sua experiência, nenhum parecia explicar tudo. A sensação de ser “demasiado sensível”, “diferente” ou “fora de sintonia” persistia. Passaram por terapias, medicação e ajustamentos pessoais, mas continuavam com a impressão de que algo essencial permanecia por nomear. É muitas vezes neste ponto, depois de anos de busca interior, que surge a possibilidade de o autismo oferecer uma explicação mais coesa, mais gentil e mais próxima da realidade vivida.


Será que algumas destas características lhe são familiares?


Muitas pessoas só descobrem na idade adulta que podem estar dentro do espectro do autismo. Durante anos, aprenderam a adaptar-se, a “encaixar”, e a explicar as suas diferenças com palavras como timidez, ansiedade, perfeccionismo ou cansaço social. Com o tempo, percebem que há algo mais profundo: uma forma única de perceber o mundo e de se relacionar com os outros.


Como é viver assim


Talvez se reconheça em algumas destas situações:


  • Precisa de regras claras e previsibilidade no dia a dia. Mudanças inesperadas: uma reunião adiada, um plano cancelado, uma visita surpresa, podem gerar desconforto.

  • Sente bem-estar nas rotinas. Organiza objetos de formas específicas, segue horários fixos, prefere comer o mesmo tipo de alimentos ou repetir certos rituais diários.

  • Tem interesses intensos e profundos. Pode falar durante horas sobre história, informática, cinema, natureza, sistemas, psicologia, literatura ou temas técnicos.

  • Às vezes não entende bem as entrelinhas sociais: o tom de voz, o sarcasmo, o subentendido.

  • Nas conversas, sente-se mais observador do que participante, como se houvesse um guião que os outros conhecem e você não.

  • Depois de encontros sociais, precisa de estar sozinho para recuperar energia.

  • Quando está concentrado, perde completamente a noção do tempo.

  • Prefere ambientes tranquilos, com pouca luz e pouco ruído.

  • É direto e honesto na comunicação, mas nem sempre os outros percebem isso como empatia.

  • Sente forte ligação emocional aos temas que o interessam, mas dificuldade em expressar sentimentos no formato que os outros esperam.


O fenótipo feminino: a camuflagem invisível


Nas mulheres, o autismo pode manifestar-se de forma mais subtil.

Muitas aprendem, desde cedo, a camuflar as diferenças, a observar, imitar e adaptar-se ao comportamento dos outros para se integrar.


Pode identificar-se com alguns destes exemplos:


  • Observa com atenção e imita expressões, gestos e frases para parecer natural.

  • Tem forte autoconsciência social, mas sente ansiedade por não saber bem o que os outros esperam.

  • Mantém relações sociais funcionais, mas sente-se exausta após interações longas.

  • Desenvolve interesses intensos, mas socialmente aceites, como animais, literatura, causas sociais ou estética.

  • Pode ter histórico de ansiedade, depressão ou burnout, sobretudo quando o esforço de adaptação é constante.

  • Muitas vezes, o seu sofrimento é invisível para os outros, porque “parece” estar bem.


Quando o autismo passa despercebido


Nas formas mais subtis (nível 1), a pessoa pode ter sucesso académico e profissional, mas à custa de grande esforço. A sensação de “ser diferente” ou “não encaixar” pode persistir, mesmo sem explicação clara.


Outros sinais menos evidentes:


  • Prefere comunicar por escrito (mensagens, e-mails) a falar em direto.

  • Tem memória notável para detalhes, mas dificuldade em lembrar rostos ou nomes.

  • Sente frustração com regras sociais inconsistentes, quando as pessoas dizem uma coisa e fazem outra.

  • Usa rotinas mentais, como repetir frases, contar passos ou rever mentalmente conversas antigas.

  • Questiona-se muitas vezes se está a “fingir” ser quem é, para se adaptar.


O que fazer se se reconhece nestas descrições


Reconhecer estas características é apenas o primeiro passo. O próximo pode ser procurar uma avaliação clínica especializada.


Uma avaliação profissional pode ajudá-lo a:


  • Compreender melhor o seu funcionamento interno e as suas necessidades específicas.

  • Distinguir o autismo de outras condições, como ansiedade social, perturbação de personalidade ou burnout.

  • Encontrar estratégias adaptadas para gerir a sobrecarga sensorial e emocional.

  • Aprender a comunicar de forma autêntica, sem precisar de camuflagem constante.

  • Construir uma vida mais coerente com quem é, com menos esforço e mais clareza.


Como procurar ajuda

A avaliação do autismo no adulto é feita por psicólogos ou psiquiatras com experiência clínica no espectro autista.

Inclui entrevistas, questionários, recolha de história pessoal e, muitas vezes, observação do comportamento.

Não se trata de um “teste que aprova ou reprova”, é um processo de compreensão profunda.


Pode começar por:


  1. Falar com o seu médico de família sobre as suas dúvidas e pedir encaminhamento.

  2. Procurar um psicólogo especializado em perturbações do espectro do autismo no adulto.

  3. Contactar associações ou centros de apoio ao autismo, que podem indicar profissionais com experiência nesta área.


Compreender é libertar

O autismo não é uma limitação, é uma forma diferente de estar no mundo. Descobrir-se no espectro pode ser o início de uma vida mais autêntica, mais consciente e mais leve.


Entender o seu modo de ser é o primeiro passo para viver com verdade, sem máscaras, sem culpa, e com o respeito que merece.
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