Post | Autismo no Adulto
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Jacobs: 381

Sabe onde começa a fila? ouve-se alguém a perguntar. Sim, sim, lá para trás! disseram. Dos quase 50 mil alunos colocados este ano no Ensino Superior, 381 entraram através do contingente especial para pessoas com deficiência. São mais 66 candidatos do que no ano passado.


Mas se eu pensar que 1 em cada 100 pessoas adultas têm um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. e já sem pensar em outras pessoas com deficiência, a ideia de 381 candidatos não corresponder à realidade é grande. E esta sensação já não é de hoje, até porque vejo cada vez mais pessoas autistas a concorrer e a frequentar o Ensino Superior.


Mas como é que se apura o número de pessoas num determinado aglomerado? Por exemplo, quando existe um concerto ou uma manifestação, as pessoas socorrem-se do método de Jacobs para fazer esse cálculo. Ou seja, este método permite calcular a área do local onde se vai realizar o evento. E de seguida, faz uma estimativa recorrendo por exemplo a imagens aéreas, do número de pessoas. E por último, efectua o produto da área pela densidade.


Contudo, este mesmo método parece não ser adequado para o efeito. E porquê? Porque continua a haver um número considerável de pessoas que ainda não têm o seu diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. Além de haver um outro grupo igualmente considerável de pessoas que sendo autistas optam por não solicitar a referenciação para a Educação Inclusiva no Ensino Superior, seja porque desconhecem essa possibilidade ou porque optam deliberadamente em não o fazer, principalmente por terem vivido um conjunto de experiências negativas ao longo da escolaridade obrigatória.


E se pensarmos nas respostas que o Ensino Superior pode fornecer a este nível, seja em termos pedagógicos mas também em relação à saúde mental, ficamos um pouco mais apreensivos. Ainda que o Ensino Superior continue a fazer um caminho de modernização e adaptação às necessidades da comunidade académica. Também é verdade que os desafios colocados pela neurodiversidade são igualmente grandes, dentro e fora de aulas.


A reflexão poderia continuar, assim como o número de pessoas neurodiversas existentes neste contexto universitário. Contudo, parece-me mais importante que todos os envolvidos, sejam alunos autistas ou que suspeitam ser, as suas famílias, docentes e responsáveis académicos, assim como psicólogos e outros profissionais que acompanham estas pessoas, e a comunidade de uma forma geral, possam sentir a necessidade de poder construir uma Universidade e por conseguinte uma Sociedade que espelhe a realidade da diversidade que nela habita. E poder haver uma maior colaboração das pessoas autistas neste processo todo. Sendo que no final das contas são aqueles que menos têm sido ouvidos, correndo todos nós o risco de continuarmos a fazer esforços que se tornam vãs ou inglórios.


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