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Foto do escritorpedrorodrigues

Eu aceito, e tu?

Afinal para que é que queres tu com esta idade o diagnóstico? perguntaram ao Álvaro (nome fictício) de cinquenta e três anos. E tu, tens por hábito aceitar tudo o que te dizem? replicou este.


Esta pergunta e resposta faz-me continuar a pensar, naquilo que muitos outros pensam - Porque é que se procura fazer um despiste de Perturbação do Espectro do Autismo na vida adulta? Mas também, Como é que se aceita um diagnóstico de autismo na vida adulta?


A melhor forma que ainda hoje encontro em responder à pergunta de como é que se aceita um diagnóstico de autismo na vida adulta é escutar aquilo que os próprios dizem. Mas ainda assim permitam-me o desabafo - Mas porque é que não é importante fazer um despiste para se saber o que se passa consigo? As pessoas de uma maneira geral negligenciam dessa forma aquilo que sentem ao ponto de desejarem não fazer um despiste ou de nem sequer quererem saber o que se passa consigo? As pessoas colocariam a pergunta se suspeitassem de uma situação de saúde física? E que questão é essa com a vida adulta que parece que para alguns parece já não ser importante saber as coisas? Significa que as pessoas a partir dos 50 anos já não interessa o que se passa consigo? E que a vida que vão viver até aos 85 anos já não interessa se vão ter qualidade de vida? Lamento que o desabado tenha sido extenso, mas trata-se da vida das pessoas, da sua saúde física e principalmente mental, além da sua qualidade de vida e do direito a compreenderem-se.


A Joana, o Carlos e a Teresa (nomes fictícios) referem com muita clareza a sua resposta. Saber que sou autista foi num primeiro momento um choque, diz Teresa. Não por causa do autismo em si, continua. Eu já tinha lido e ouvido falar de muitas outras coisas para além do autismo. A minha mãe é Bipolar e a minha avó também, refere. O choque é nunca ninguém ter percebido aquilo que eu própria fui compreendendo acerca de mim, a diferença, conclui. Mas a diferença foi percebida pelos outros, diz Carlos. Eu tive muitos professores que assinalaram as minhas diferenças, ainda que de forma negativa, refere. Concordo com essa ideia, diz Joana. A minha própria família nem sempre me aceitou. E ainda hoje alguns membros da minha família não aceitam, conclui. Por isso eu penso que não há apenas uma aceitação da nossa parte do diagnóstico, diz Teresa. É uma responsabilidade de todos nós, comenta. Até porque para mim saber que não sou preguiçosa, mal educada, anti-social, teimosa e todas as outras coisas deixa-me aliviada, diz Joana. No principio não queria acreditar nesses nomes todos que me chamavam, diz Carlos. Mas com o passar dos anos foram sendo mais e mais pessoas a dizerem-no, continua. E a partir de determinado momento comecei a acreditar. Até porque não tinha ninguém que pensasse de uma outra forma e eu estava cansado de falar comigo próprio. Por isso desisti e entreguei-me à ideia das outras pessoas, conclui. Para mim foi complicado no inicio, diz Joana. Eu sempre acreditei nas pessoas e principalmente em determinadas pessoas, diz. Os médicos a que ia nunca me disseram nada e principalmente a minha Pediatra de quem eu tanto gostava. Custou-me muito a acreditar a primeira vez que me falaram em autismo, refere. Para acreditar no que me diziam não bastava que o dissessem, diz. As coisas nunca funcionaram assim para mim, continua. Eu tenho de acreditar na pessoa e isso demora muito tempo, conclui. As pessoas fazem ideia do que é tomar uma decisão como dizer que se é autista? pergunta Carlos. As pessoas fazem ideia do que é dizer que se é autista e ter pessoas a dizer que nunca notaram? Ou que a eles não lhes faz nenhum sentido e que isso deve ser engano? continua. As pessoas fazem ideia do que é receber uma atitude paternalista nos locais onde vivemos, estudamos e trabalhamos? E ver as pessoas a não nos deixarem fazer as coisas porque sabem que nós somos autistas e pensam que não sabemos fazer as coisas? refere. E além disso que o Carlos refere, eu não acho que as pessoas autistas, ou quem quer que seja, tenham de dizer o seu diagnóstico aos outros! refere a Teresa. Essa ideia de quase obrigatoriedade de dizer o diagnóstico de autismo para que as pessoas não autistas saibam para que eventualmente possa adequar algumas coisas enquanto outros não o fazem não me faz sentido! despeja. As pessoas, todas elas, têm o direito à reserva da sua privacidade, continua. Eu assumo o meu ser autista, mas não sinto que isso tenha que ser dito aos outros. Porquê? Porque é a minha decisão, conclui. Percebo a tua posição Teresa, diz-lhe Joana. Apesar de pensar que é importante poder haver cada vez mais pessoas autistas a poderem aceitar o seu diagnóstico e o que isso representa para si, diz. Até porque tem um impacto importante na representação que se continua a fazer do autismo e da pessoa autista, conclui.


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