Dia da mãe
- pedrorodrigues
- há 4 dias
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Hoje sabemos e falamos com maior certeza de mães que têm filhos com um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. Mas também de mães autistas que possam ou não ter filhos com esta mesma condição. E como no primeiro domingo de maio celebramos o dia da mãe, estas mães também são mães autistas.
Poderiamos pensar se faria sentido este tipo de texto com particular ênfase nas mães autistas, quando poderiamos pensar que uma mãe é uma mãe, seja ela autista ou não autista. E como para muitas mulheres, a vida adulta envolve tornar-se mãe. Em muitas culturas diferentes, tem-se demonstrado que ter um filho traz experiências mistas; tanto positivas, como alegria, calor humano e conexão com outra pessoa, quanto negativas, como aumento do stress. E também aqui poderiamos continuar a perguntar se fará sentido falar de mães autistas separado de mães não autistas.
As pessoas autistas adultas parecem ter experiências diferentes de vários eventos da vida em comparação com aqueles que não são autistas. Portanto, é possível que a experiência da maternidade seja um pouco diferente para mulheres autistas do que para mulheres não autistas. As pessoas autistas apresentam uma variedade de características e valores, como altos padrões de desempenho por meio de maior atenção aos detalhes e fortes valores de trabalho, que podem trazer maior resiliência e dedicação ao desafio da maternidade. No entanto, as mulheres autistas também tendem a enfrentar uma ampla gama de desafios na vida e as dificuldades de saúde mental concomitantes são prevalecentes.
Como a maternidade pode frequentemente desencadear depressão, mesmo naquelas que nunca a experimentaram anteriormente, é importante investigar como as mulheres autistas vivenciam a maternidade, considerando os desafios acrescidos que podem ocorrer durante a parentalidade e começar a adquirir conhecimento sobre o que pode ajudar as mulheres autistas a se prepararem para a maternidade.
Contudo, também aqui na maternidade, o desconhecimento relativamente às vivências das mulheres autistas neste período é muito grande. Assim como também em outras fundamentais das pessoas autistas adultas e ainda mais nas raparigas e mulheres.
A experiência da maternidade, como tantas outras experiências da pessoa adulta, é influenciada pelas experiências que a pessoa foi tendo ao longo da sua vida até esse momento. Se pensarmos que ainda não muitas as pessoas autistas que descobrem sê-lo já na vida adulta, depreendemos que ao longo de todo um conjunto de anos a pessoa foi procurando (sobre)viver e sem os apoios necessários face às suas necessidades. Para além de termos de pensar que há todo um conjunto de características nas pessoas autistas e que devem ser tidos em conta também no período da maternidade como podendo ser influenciado por elas.
Seja na preparação para a própria maternidade e no acompanhamento da mulher autista durante o período de gestação, já temos falado sobre o ainda grande desconhecimento até por parte de profissionais de saúde e que contribui para uma experiência mais traumática e violenta. Sendo que o mesmo se parece passar no momento do parto e do acompanhamento pós parto.
Quando começa a ser altura de integrar os filhos no sistema escolar, começando pela Creche, são várias as dificuldades que vão continuando a acontecer. Seja porque algumas destas Insituições que acolhem estas crianças, no caso delas terem um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo, também continuam a demonstrar fracos conhecimento de como as integrar e orientar. Mas mesmo quando as crianças não estão no espectro do autismo, estas mães autistas continuam a fazer o acompanhamento dos seus filhos e necessitam de interagir com estas Instituições e profissionais da educação. E ao longo de todo o percurso escolar obrigatório, são vários os desafios que continuam a se acumular a todo um outro conjunto de situações de vida igualmente desafiantes para as famílias.
Sejam os aspectos sensoriais que são sistematicamente desafiadas, nomeadamente dentro de casa e no cuidar dos seus filhos. Mas também na necessidade de verem efectivado os apoios necessários enquanto pessoas autistas que muitas vezes tende a não acontecer. Para além do próprio processo de aceitação enquanto mulher autista, principalmente no caso daquelas que descrobem mais recentemente o seu diagnóstico. E apesar de ser pouco conhecido o número real, é percebido que a percentagem de familias monoparentais com filhos com diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo e que a mãe fica a cuidar é sensivelmente de 20% a 30%. Sendo que a este nível perguntamos quantas destas mulheres também serão elas pessoas autistas.
Que estes e outros dias possam servir para celebrar, mas também para trazer consciência daquilo que precisa de ser feito para contribuir para uma mudança. Para cuidar, a mãe autista precisa de ser cuidada, ser ensinada a crescer com a importância de se cuidar a si própria, consciente da sua pessoa e identidade. E por isso, estes dias celebramos as mães, mas sem esquecer a responsabilidade de todos nós.

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