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To kill a mockingbird

"I know sometimes things may not

Always make sense to you right now

But hey, what daddy always tell you?

Straighten up little soldier

Stiffen up that upper lip

What you crying about?

You got me..."


Eminem, in Mockingbird


To Kill a mockingbird, traduzido para o Português Mataram a cotovia, é um clássico da literatura norte-americana escrito por Harper Lee. Entre vários temas abordados neste livro encontramos a injustiça racial e a destruição da inocência. Mas também as questões de classe, coragem, compaixão e papéis de género, tal como foram vividos pela escritora na altura em questão, em 1936 no extremo sul dos Estados Unidos.


E por que é que me fui lembrar deste livro? Em parte por causa do pássaro em questão. O Mockingbird, em Português a Cotovia, também chamado por vezes de pássaro mimo. Ou seja, este pássaro é conhecido por imitar o som de outros pássaros, insectos e até anfíbios. Mas a principal razão prende-se com a forma como algumas, porventura muitas pessoas autistas vão usando a camuflagem social para se integrarem socialmente.


Muitas vezes se tem falado da camuflagem social como uma competência. E esta principalmente ligada às mulheres. Ainda que compreenda a designação de competência, confesso que não gosto e não concordo. Até porque vejo este comportamento como uma resposta à necessidade angustiante de se integrarem, para muitas das pessoas autistas. Mas também para se redimirem daquilo que pensam que estão a fazer errado para tantas outras pessoas autistas.


E por isso me fui lembrar do livro Mataram a cotovia. A história narrada por Jean Louise, também chamada de Scout, refere o facto de não compreender a maldade e a hipocrisia do mundo dos adultos. Em boa parte, tal como muitas pessoas autistas ao longo da sua vida vão sentido em relação aos não autistas, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos.


E por não compreenderem e sentirem frequentemente que os não autistas também não os compreendem e não fazem muitas vezes sequer esforço para os compreender, procuram imita-los. Tal como a cotovia faz no seu habitat. As pessoas autistas procuram estudar o comportamento humano de uma forma mais ou menos académica e intensa. Tirar apontamentos do comportamento em diferentes situações sociais e outras. Principalmente naquelas em que parece ser mais importantes para si e para o seu quotidiano, para que sintam que conseguem fazer semelhante. E com a ideia presente de se fizerem igual aos não autistas não terão represálias sociais e serão mais facilmente aceites.


Mas nem sempre isso acontece. O que leva muitas pessoas autistas a se perguntarem o que terá falhado no processo. E de os frustrar nas inúmeras tentativas em fazer mais e melhor. E com a dificuldade em compreender o porquê de continuarem a fazer isto ou aquilo. E porventura principalmente levar as pessoas autistas a se sentirem desfragmentadas na sua identidade. De após anos a procurarem ser outra pessoa, passam a questionar-se quem eles verdadeiramente são ou sequer desejam ser.


Hail to thee, blithe spirit!

Bird thou never wert!


Avé, alegre espírito!

Tu que nunca foste pássaro!


Percy Bysshe Shelley


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