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Justiça espacial no autismo

Não, não estamos a falar de nenhuma Directiva da Estação Especial Internacional para a implementação de nos normas juridicas no espaço? Também não estamos a falar de enviar as pessoas autistas para o espaço, ainda que algumas delas possam dizer que estariam porventura melhor lá do que no planeta Terra. E não, também não perdi o juízo!


A justiça espacial é o conceito de distribuição justa de recursos, oportunidades e poder entre espaços físicos para garantir que todos possam prosperar, reconhecendo que a localização é um factor-chave na desigualdade social e que o próprio espaço pode criar ou reforçar desvantagens. Envolve tanto a distribuição de recursos e serviços (como transporte, habitação e espaços verdes) quanto a justiça processual no planeamento e nas decisões políticas que afectam as comunidades. Os aspectos principais incluem abordar as disparidades no acesso à infraestrutura, promover o uso equitativo dos espaços públicos e garantir que as comunidades marginalizadas tenham voz na definição dos seus ambientes.


E qual/ais o(s) espaço(s) ocupado e/ou usado pelas pessoas autistas? E como é feito esse uso?


Por exemplo, Honorata Grzesikowska e Ewelina Jaskulska estudaram o comportamentos de alunos entre os 8 e os 14 anos de idade nos pátios das escolas na Catalunha. Entre outras questões verificaram que a ocupação e a dinâmica de ocupação do espaço de recreio feito pelos rapazes e raparigas reflete as desigualdades de género e as diferenças de utilização entre rapazes e raparigas. E que a forma como os espaços são pensados e projectados vai influenciar de forma significativa a maneira como estes são usados e ocupados.


Se pensarmos nas características das pessoas autistas e da forma como muitas delas apresentam questões sensoriais, principalmente hipersensibilidades, podemos antever que a movimentação e ocupação do espaço seja determinado pela forma como este é desenhado e implementado. Não será dificil de aceitar que as pessoas autistas não irão ocupar espaços que estejam dimensionados e desenhados para números grandes de pessoas. Ou onde o nível de ruído seja maior? Ou seja necessário contornar um maior número de obstáculos? Ou seja preciso pedir orientações porque não existem ou são difíceis de descodificar no próprio local.


E se pensarmos que isto acontece em escolas, faculdades, transportes públicos, hospitais, centros de saúde, tribunais, centros comerciais, etc., mas também nas cidades como um todo. Não é dificil de compreender que sair de casa possa ser sentido como extremamente desafiante, agressivo e em várias destas pessoas impossível de aguentar.


Voltando ao exemplo do comportamento dos alunos e alunas entre os 8 e os 14 anos de idade no recreio das escolas, qualquer um de ós afirmariam sem qualquer problema que o espaço seria ocupado de forma igual ou muito semelhante entre rapazes e raparigas. E que não viam como tal nenhuma razão para isso sequer ser equacionado e muito menos repensado. E quantos não diriam que isso é mais um ponto da agenda Woke para as escolas? Contudo, o estudos e tantos outros semelhantes têm demonstrado essa mesma evidência.


Se o espaço não for sentido como atractivo, suficiente para satisfazer as necessidades pessoais da pessoa, ou seguro, então a probabilidade da pessoa se deslocar e o usar será menor. Pensem em quantas vezes cada um de vocês escolheu um restaurante ou outro local atendendo à segurança ou ao envolvimento urbanistico. Já para não falar quando procuramos escolher o lugar onde iremos viver!


Como tal, pensem em como é que uma criança, adolescente, mas também um jovem adulto autista, na escola ou na universidade se irá sentir quando os espaços parecem tudo menos pensados e projectados para eles usarem. E como é que esse espaço não estando a ser pensado também para si e consigo acaba por fazer agravar grande parte das suas características e sintomas. E sublinho, como em muitas outras situações de adaptações ou acomodações necessárias nas escolas e nos locais de trabalho para as pessoas autistas. Este pensar e projectar o espaço também para as pessoas autistas é pensar num modelo universal, seja para a aprendizagem, mas também para o uso do espaço urbano, e que sirva o propósito de ser para todos, pessoas não autistas e autistas.

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