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Foto do escritorpedrorodrigues

Ground Control to Major ToM

"Ground Control to Major Tom

Ground Control to Major Tom

Take your protein pills and put your helmet on

(Ten) Ground Control (Nine) to Major Tom (Eight, seven)

(Six) Commencing (Five) countdown, engines on

(Four, three, two)

Check ignition (One) and may God's love (Lift off) be with you"


David Bowie in Space Oddity


No dia 27 de janeiro rumamos todos para o Simpósio do PIN Tech Day. O dia será marcado por todo um conjunto de intervenções revolucionárias e que nos vão colocar a todos a pensar fora da caixa, de uma forma dimensional sobre o comportamento humano e da interacção deste com a máquina. Esta interacção foi sendo desenvolvido durante as últimas décadas em áreas remotas à saúde mental. Porventura, a existência da pandemia COVID-19 fez acelerar aquilo que já se vinha a desenhar - a introdução da Inteligência Artificial & Realidade Virtual na intervenção com pessoas com situações de saúde mental.


Assim que se começou a falar do ChatGPT, uma das primeiras noticias que ouvi foi de que eram muitas as pessoas que durante a pandemia tinha usado esta ferramenta para fazer frente ao seu sofrimento psicológico, além das suas dificuldades sócio-económicas para conseguir suportar estes acompanhamentos. E também foi possível ouvir alguns rumores de psicólogos que sentiam temer o futuro do seu trabalho com o continuo desenvolvimento destas ferramentas. Para além disso, alguns estudos têm demonstrado que as pessoas ainda receiam a utilização da Inteligência Artificial (ver aqui). Mas se pensarmos, alguns de nós também recearam a entrada da internet e outros desenvolvimento tecnológicos mais ou menos recentes.


Precisamente por isso, este Simpósio PIN Tech Day irá promover um espaço de partilha, aprendizagem e esclarecimento relativamente a estas e outras questões.


Tendo em conta o meu trabalho desenvolvido junto de pessoas autistas, um dos aspectos que é frequentemente abordado é a Teoria da Mente. Este conceito refere-se à capacidade de compreender e prever os pensamentos, as emoções e as intenções das outras pessoas e é essencial para uma interação social bem sucedida.


Mas o que é que a Teoria da Mente pode ter a ver com a Inteligência Artificial?


A inteligência artificial mudou drasticamente o mundo tal como o conhecemos, mas ainda não abrangeu totalmente a cognição no seu expoente máximo, ou seja, a forma como o pensamento de um ser inteligente é afectado pelo seu estado emocional. A inteligência artificial que engloba a cognição neste nível não só dará origem a melhores interacções máquina-homem, como também promoverá uma abordagem ética muito necessária.


Por exemplo, muitos de vocês já experimentaram o ChatGPT, e sentiram de uma forma ou de outra uma menor capacidade por parte desta em lidar com a imprevisibilidade e o inesperado, certo? A inteligência artificial pode ser uma ferramenta útil para melhorar a terapia da teoria da mente, fornecendo uma plataforma interactiva para a prática de competências de comunicação e empatia, bem como para avaliar e monitorizar os progressos nas competências da teoria da mente.


E se pensarmos no desenvolvimento de aplicações (App's) para a saúde mental, um dos aspectos que tem sido falado é a importância de um apoio emocional personalizado e conversas guiadas para ajudar as pessoas a desenvolverem competências da teoria da mente e a melhorarem a comunicação e as relações interpessoais. Além disso, estas aplicações também podem oferecer a vantagem da acessibilidade e da privacidade, permitindo que as pessoas acedam à terapia da teoria da mente a qualquer hora e em qualquer lugar através dos seus dispositivos móveis. A combinação da teoria da mente com a inteligência artificial pode ser uma ferramenta valiosa para melhorar a terapia para a saúde mental e aumentar a acessibilidade aos cuidados. É importante que estas aplicações continuem a ser investigadas e desenvolvidas para garantir a sua eficácia e segurança no tratamento de problemas de saúde mental.


Ao invés de ficarmos presos à ideia de que estamos a tornar as máquinas iguais às pessoas. Talvez possamos pensar que podemos tornar as máquinas melhor no desenvolvimento de algumas das suas actividades. Tal como o empenho no desenvolvimento tecnológico nos últimos anos, também deve ser pensado a importância da integração da Teoria da Mente nos protocolos das máquinas. Até porque desta forma as máquinas inteligentes podem partilhar sem problemas ambientes construídos por seres humanos para seres humanos.


Por exemplo, um aspecto que pode não ter nada a ver com a questão da saúde mental, mas tem em muito a ver com o comportamento é a segurança rodoviária e a utilização efectiva de veículos autónomos. A segurança depende do facto de os veículos inteligentes serem capazes de compreender e prever o comportamento humano. Na condução autónoma, um automóvel inteligente precisa de fazer previsões fiáveis sobre o comportamento humano em tempo real, por exemplo, para ajustar preventivamente a velocidade e a trajetória para fazer face à possível decisão de uma criança de atravessar inadvertidamente a estrada à sua frente.

As redes neuronais podem identificar eficazmente acções humanas em vídeos em fluxo contínuo, como padrões de movimento. No entanto, estes últimos podem ser enganadores, uma vez que os seres humanos podem mudar subitamente de ideias com base nos seus próprios processos mentais, pensamentos e motivações, e nas coisas que vêem à sua volta. No caso deste exemplo, as crianças que anteriormente caminhavam no passeio em direção à escola podem avistar uma carrinha de gelados do outro lado da rua e decidir atravessar a rua para ir buscar o seu gelado. Nenhum sistema de previsão que funcione apenas com base em movimentos observados no passado poderá ser suficientemente exacto e fiável em ambientes tão complexos, sem ter em conta o contexto e a natureza dos outros agentes envolvidos. Os seres humanos, por outro lado, podem prever o comportamento futuro dos outros mesmo quando não há movimento, bastando para isso avaliar rapidamente o tipo de pessoa envolvida e o cenário que a rodeia (e.g., uma pessoa idosa parada num corredor é suscetível de decidir apanhar o elevador em vez das escadas).


Este facto assinala a necessidade de a IA abordar a cognição mais desenvolvida, por exemplo, a forma como o pensamento de uma pessoa é influenciado pelo seu estado emocional. A cognição refere-se à cognição emocional e social, incluindo a Teoria da Mente. Contrasta com a cognição em que o processamento da informação é independente do envolvimento emocional. A cognição social visa compreender os fenómenos sociais (ou seja, a forma como as pessoas lidam com outras pessoas) através da investigação dos processos cognitivos subjacentes. Com a emergência de construções artificiais capazes de mostrar alguma inteligência (limitada), o conceito precisa de ser alargado à forma como os seres humanos lidam com máquinas inteligentes (e.g., um bot de conversação de uma companhia aérea) e vice-versa.


Como podem observar há muito para escutar, perguntar, reflectir e construir na Inteligência Artificial e na utilização desta na saúde mental. E também por isso, o dia 27 de janeiro é aguardado como muita expectativa! Envolva-se e participe, o futuro também é seu!


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