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Como construir uma máscara?

Tendo em conta que hoje celebramos, pelo menos alguns de nós, o Halloween, pareceu-me adequado falar de como construir uma máscara.


Mascarar, camuflar e outros sinónimos têm sido muito usados nos ultimos tempos quando nos referimos a pessoas autistas e ainda mais em particular às raparigas e mulheres. E isto não significa que os rapazes e homens autistas não o saibam fazer, mas parecem sentir maiores dificuldades e outras motivações do ponto de vista interpessoal.


Mas é preciso pensarmos no porquê da pessoa, seja ela autista ou não autista, precisar de se mascarar, camuflar, ocultar algumas das suas características em detrimento de outras para se conseguir encaixar socialmente e ser aceite. Sim, porque as pessoas, sejam elas autistas ou não autistas, fazem-no principalmente com este objectivo: integrar-se e serem aceites socialmente.


Contudo, se as pessoas se sentissem à partida integradas na Sociedade e fossem respeitadas nas suas diferenças e singularidades, seria necessário fazerem uso desta camuflagem? Ou se as pessoas se sentissem confortáveis e confiantes com a sua pessoa e identidade e não receassem algum tipo de comentário ou critica mesmo que construtiva, seria necessário ocultarem alguma coisa?


Não é que se esteja a atribuir culpa aos outros por alguém se mascarar para se sentir integrado. Contudo, é importante poder integrar o porquê de determinado comportamento, neste caso a camuflagem social, quando é expectável que as pessoas o possam fazer de uma forma adequada.


Mas a realidade não é essa, pelo menos num grande número de contextos onde a pessoa vive. Quantos de nós já não sentiram necessidade de mascarar algumas das suas características e procurar por em prática algumas carcaterísticas percepcionadas acerca do grupo onde se querem integrar para poderem ter sucesso? Seja na escola, quando olhamos para o grupo dos alunos que consideramos ser os mais afamados e conhecidos, ou aqueles que pertencem ou se identificam com um determinado estilo.


Muito provavelmente, se as pessoas tivessem sido ensinadas a se conhecerem, e principalmente respeitarem e gostarem de si pelo que são, talvez não houvesse esta tão grande necessidade e que tanto mal estar e sofrimento causa em muitos daqueles que o tentam. Seja na ansiedade que sentem ao tentarem fazê-lo. Mas também do ponto de vista da sua identidade que vai ficando ameaçada consoante o número de anos que a pessoa vai continuando a usar a camuflagem social. Deixaram provavelmente de serem e depois de saberem quem são, pois foram saltitando de forma de ser consoante as pessoas e grupos que quiseram integrar.


Sermos quem somos, aceitar e gostarmos de nós, é um desafio, e várias vezes é doloroso. Até porque todos nós temos facetas e partes de nós que não gostamos ou nos assustamos. Mas nós somos tudo isso e todas essas características, sejam aquelas herdadas do ponto de vista genético, mas também aquelas que fomos aprendendo ao longo da nossa existência. Tendo em atenção que os primeiros anos de vida, seja na primeira infância em que dependemos grandemente de figuras significativas e cuidadoras na nossa vida. Mas também ao longo da infância e adolescência em que estaremos ocupados a construir muitos dos nossos pilares da identidade que irá continuar a fazer o caminho ao longo da vida adulta.


Ao pensarmos que continuamos a ter dificuldade em fazer um diagnóstico de autismo em idades precoces, ainda que cada vez mais se consiga. Temos em média o diagnóstico de autismo a ser feito por volta dos 6-8 anos de idade. Ou seja, temos toda a primeira infância em que a própria criança, e principalmente os seus cuidadores não têm conehcimento de muito dos comportamentos e desafios que estão a acontecer naqueles anos. E se falarmos que continua a existir um número consideravel de pessoas autistas que recebem o seu diangóstico já na vida adulta, ou seja, depois dos 25 anos de idade. E muitos deles já nos 50-60 anos de idade. Aquilo que conseguimos compreender é que as pessoas não foram percebendo o que se passava consigo. Na maior parte das vezes foram ouvindo de uns e outros que não fazem bem as coisas, que fazem sempre tudo diferente dos outros, etc. Ou seja, foram construindo os seus pilares e a sua identidade assente em uma crença negativa da sua pessoa e da sua capacidade de ser e de construir. Várias destas pessoas, principalmente com competências para o fazerem, foram observando algumas das pessoas que consideravam mais capazes e competentes, seja do ponto de vista social, académico ou profissioal, e procuraram copiar. Ainda que capazes e competentes, foram falhando em muitas destas tentativas, até porque não estavam a perceber que as coisas funcionavam para a outra pessoa, mas não estavam adaptadas a si e como tal não corria bem. Ou então, quando passavam para outro contexto não adaptavam às mudanças e como tal as coisas também não corriam de acordo com o esperado.


Como construir uma máscara na verdade quer falar de como nos podemos construir a nós próprios. Ao ponto de podermos usar máscaras, mas daqueles que fazemos ou compramos para nos devirtir, e não aquelas que nos façam ser outro alguém porque sentimos que o nosso Eu não é válido. Mas tal como havemos de precisar de ajuda para fazer uma máscara. Por exeplo, eu necessitaria certamente de ajuda para fazer esta máscara da raposa em papel. Como tal, é preciso dar melhores condições às pessoas e às familias para ajudarem os seus filhos e se construirem em confiança ao longo da infância. Principalmente para poderem ser jovens e posteriormente adultos que decidam ir fazer ou comprar uma máscara para celebrar o Halloween, mas também se sintam confortaveis por não o quere fazer sem que isso belisque a sua pessoa.


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