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Autism best of

Um de setembro de 1985, os destroços do Titanic são encontrados a mais de 3 Km de profundidade no Oceano Atlântico Norte. Apesar de ter afundado a 15 de abril de 1912, e ser conhecido o local do acidente, apenas ao fim de 73 anos é que são encontrados.


Apesar deste facto poder ser distante dos temas do autismo, têm muito de próximo entre si. Porquê? Apesar de se falar de autismo, investigar, diagnosticar e procurar intervir nesta condição desde 1926, apenas em 1980 é que este apareceu na DSM III.


Em 1985, Baron-Cohen, Utah Firth e colaboradores, usavam o teste Sally-Anne para procurar demonstrar evidência cientifica para aquilo que seria designado de Teoria da Mente, demonstrando que crianças autistas falhavam sistematicamente em tarefas de falsa crença, levando à hipótese de um défice específico na compreensão dos estados mentais dos outros (ver artigo publicado aqui).


Em 1985, os estudos de prevalência do autismo, apontavam para 4-5 casos por cada 10.0000 crianças no caso de um fenótipo de autismo mais alargado e de cerca de 2 casos por cada 10.000 crianças no caso do autismo clássico.


Em 1985, com a recente entrada da categoria nosológica de autismo na DSM III, o diagnóstico e o olhar clinico para o autismo era quase exclusivamente centrada na infância e nas crianças, Ainda que desde os seus primóridos haja registo de observações de perfis de funcionamento de autismo em pessoas adultas. Inclusive o próprio Leo Kanner e Hans Asperger faziam menção disso nos seus artigos iniciais sobre o autismo.


Já mais no final dos anos 80 e com a revisão da DSM III, passou a haver um certo alarmento dos critérios em relação ao autismo e já se procurava dar uma certa atenção ao autismo na pessoa adulta. Ainda que nesta altura o desenvolvimento da investigação cientifica se centrava em muito na avaliação do treino de competências funcionais nas pessoas autlstas adultas, tal como se pode ler aqui.


Pessoas nascidas em 1985 farão este ano 40 anos. E como tal, na altura em que nasceram e até à sua entrada no 1º e 2º ciclo, ainda havia muito pouco desenvolvimento sobre o autismo mais alargado. Algo que apenas veio a acontecer em 1994 na DSM IV com a entrada da categoria de Síndrome de Asperger.


Quando hoje, uns e outros se perguntam do porquê deste aumento de diagnósticos de Perturbação do Espectro do Autismo, é preciso poder enquadrar este crescimento nestes factos. Para além da escassa formação e conhecimento dos profissionais de saúde sobre o autismo, suas características e sinais precoces, mas também dos instrumentos de avaliação que ainda careciam de muitas revisões para se tornarem mais eficazes na sua detecção tal como hoje se vai verificando com mais frequência.


Contudo, ainda hoje em 2025, é urgente uma revisão dos conteúdos programáticos nos cursos de psicologia e medicina face ao autismo. Certamente, que o mesmo é igualmente importante para todo um conjunto de outras condições. No entanto, tem sido sistematicamente verificado que as pessoas autistas apresentam resultados significativamente negativos quando comparados com pessoas não autistas e até mesmo com pessoas com deficiência em vários indicadores, tais como o acesso aos serviços de saúde ao longo do ciclo de vida, ao diagnóstico precoce, suicídio, empregabilidade, acesso a habitação própria, autonomia e independência, etc. (ver aqui e aqui).


Talvez organismos como a Ordem dos Psicólogos Portugueses, Ordem dos Médicos e outras Organizações e Associações defensoras dos direitos das pessoas autistas possam criar desenvolver uma maior pressão sobre o Ministério da Ciência e do Ensino Superior para fazer uma revisão adequada destes conteúdos e formação dos profissionais de saúde.


A não ser que queiram continuar a entoar os best of de 1985, desde Careless Whisper dos Wham, Like a Virgin da Madonna ou USA for Africa's, é bom que se possa fazer algo diferente acerca do assunto, correndo o risco de voltarmos a descongelar a Mariah Carey com All I Want for Christmas is You de 1994.

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