Post | Autismo no Adulto
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Arquétipo do autismo

Their strengths and deficits do not deny them humanity but, rather, shape their humanity.

Grinker, 2010


Onde começou o autismo? E se pensam recuar a Leo Kanner ou Hans Asperger por volta de 1940, pensem melhor! E se referirem que foi Bleuler que referiu pela primeira vez do ponto de vista clinico a palavra autismo em 1908, continuem a tentar! Mil novecentos e oito?! Então e antes disso não havia autismo? E como é que este apareceu? E o autismo não é uma perturbação do neurodesenvolvimento? E o autismo no é uma perturbação multifactorial que envolve factores genéticos e ambientais? E se envolve factores genéticos estes não estariam já presentes na espécie humana antes mesmo de 1908? São muitas as perguntas. São poucas as respostas. E aquelas que existem parecem ser escassas para ajudar nesta compreensão - Onde começou o autismo?


Mas talvez possa ser importante poder voltar atrás. Tal qual quando alguém não sabe por onde começar e lhe respondem - Começa pelo principio!


Quando pensamos sobre o autismo. O que é o autismo, como ele se expressa ou como ele tem evoluído. Estamos na maior parte das vezes muito constrangidos por um intervalo de tempo bastante reduzido. E que ainda não foi suficiente para pensarmos o que é que ele representa para todos nós. Até porque será fundamental termos a participação activa das pessoas autistas na Sociedade e na própria construção da cultura, para que possamos todos e melhor dizer o que pensamos e sentimos o que o autismo seja. E também por isso se torna fundamental podermos caminhar para o principio, e por isso o nome o Arquétipo do autismo. E se pensarmos nos contributos de Jung sobre os arquétipos, talvez possamos perguntar qual é a herança psicológica das pessoas autistas? Ou seja, qual a herança psicológica resultante das experiências de milhares de gerações de seres humanos no enfrentar de infinitas situações quotidianas?


Quando consideramos como as sociedades passadas diversificadas e interdependentes devem ter sido não podemos deixar de pensar se a diversidade em si poderia ter sido importante de alguma forma no nosso sucesso evolutivo. Pessoas diferentes trazem diferentes competências e talentos e pode encontrar diferentes soluções para problemas que

ameaçar a sobrevivência, e não é difícil ver que qualquer grupo pré-histórico com uma gama de talentos variados podia sair-se melhor do que um em que todos são semelhantes. Mais do que isso, enquanto tantas vezes nos focamos numa pessoa (neuro)típica quando consideramos a nossa história evolutiva, talvez as relações entre as pessoas podem ser mais significativas.


Vejamos, na imagem que acompanha este texto, podemos ver uma pessoa adulta do sexo masculino, e que da sua aparência deduzimos que possa pertencer a um dos nossos antepassados. Ele chama-se Ötzi. Ou pelo menos foi o nome que lhe atribuíram. É o homem do gelo do museu do Tirol Sul em Bolzano, na Itália. Os dados recolhidos do corpo mumificado do Ötzi referem que ele morreu há cerca de 5.300 anos. Estaríamos a viver no Paleolítico Superior, mais precisamente entre 30.000 e 8.000 A.C, de acordo com a referências aos diferentes períodos.


Bastantes anos mais tarde, mais precisamente em 2019 é publicado um artigo que refere que na Itália se presume existirem cerca de 600.000 pessoas autistas. Não, não estou a dizer que o Ötzi é presumivelmente autista. Contudo, e apesar de falarmos do autismo há cerca de 90 anos. Principalmente enquanto entidade clinica e diagnosticável. O certo é que já há mais tempo que se sabe haver referências ao autismo. E não, não me estou a querer reportar à Grécia antiga. Pergunto-me mesmo sobre a existência do autismo num período semelhante ao que o Ötzi viveu.


Isso mesmo, até porque os genes do autismo são antigos. Não apenas velhos, mas sim muito velhos. São mais velhos que os peixes, mais velhos que os insectos e até mais velhos que as esponjas oceânicas. Na verdade, muitos genes do autismo são mais antigos do que a própria vida multicelular. A investigação genética argumenta que o autismo ocorre logo no início da história evolutiva humana, há pelo menos 8 milhões de anos. Os genes para o autismo parecem fazer parte da evolução do macaco e do genoma humano, ou da sua capacidade de adaptação, presentes devido a outras vantagens cognitivas que o autismo confere e que atenuam os custos. O autismo tem uma longa história evolutiva. E os genes associados ao autismo têm sido argumentados como aparecido em macacos, uma vez que também estão implicados na expansão do macaco e do cérebro humano. Como tal, os estudos em genética apresentam dados que demonstram a existência de uma proliferação de genes associados ao autismo relativamente tarde na evolução humana, algum tempo depois de 200.000 anos atrás. Além disso, variações exclusivamente humanas do número de cópias (CNVs) em 16p11.2 estão associadas ao autismo, que são susceptíveis de ser únicas para os humanos modernos como surgiram nos últimos 183.000 anos.



Como é que as pessoas autistas teriam sido tratados em sociedades ancestrais? E qual o papel que tiveram nos processo evolutivo da espécie humana?


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