A caloria é uma unidade de medida de energia normalmente considerada como o valor energético dos alimentos. Muitas pessoas sabem bem do que se trata, até porque frequentemente se preocupam em a calcular. O objectivo maior neste cálculo prende-se com o controlo do peso. Em saúde mental, a questão das calorias também é importante, mas falaremos disso noutra altura. Mas há outras coisas igualmente mais importantes, nomeadamente o diagnóstico, usualmente rotulado de rótulo. Penso que seja compreensível esta designação de rótulo e por várias razões. Porque um diagnóstico é a atribuição de um nome a uma situação clinica apresentada em formato de queixas. As pessoas poderão pensar-se como sendo o produto final, aquele que está dentro da embalagem, e que o rótulo afixado na parte exterior da embalagem descreve os constituintes desse mesmo produto, como se fossem as suas queixas apresentadas. Mas também lhe deverão chamar de rótulo por causa do estigma referente às perturbações mentais. E como tal, a designação de rótulo é uma forma das pessoas se poderem referir à forma como se estão a sentir tratadas. Como alguém que foi carimbada, igual a tantas outras, com a mesma situação clínica, como se de produtos rotulados numa prateleira se tratassem. Até porque algumas pessoas já tiveram vários diagnósticos e nem todos eles estavam correctos. Mas deixem-me que vos diga que os rótulos, os verdadeiros, são normalmente mais difíceis de ler, até pelo tamanho da letra. E alguns até são acompanhados de informação pouco clara e com algumas incorrecções face à realidade dentro da embalagem. Vejam lá que eu já comprei shampoo para o cabelo e o rótulo vinha todo ele em Russo. Não percebi nada, mas ainda assim lavei o cabelo com ele. Os constituintes dentro da embalagem e que constam no rótulo, o verdadeiro, são menos complexos que a própria pessoa e as suas queixas, e costumam vir apenas descritos de forma quantitativa e em percentagens. Os diagnósticos, apesar de apresentarem uma listagem de critérios, que até podem levar as pessoas a pensar em constituintes de um determinado produto. Estes mesmos critérios são bastante mais complexos e têm uma representação, neurobiopsicofisiológica e não somente molecular como nos constituintes reportados nos rótulos. Ainda que os rótulos, os verdadeiros, nos dias de hoje já venham acompanhados de informação acerca da preparação do produto contido na embalagem. Gostaria de frisar que o diagnóstico vem acompanhado de um profissional de saúde que vai acompanhar a pessoa na leitura do mesmo e na sugestão de diferentes recomendações para a intervenção. O rótulo, o verdadeiro, normalmente não tem alterações ao longo do tempo, a não ser que a receita mude. No caso do diagnóstico, apesar deste também sofrer alterações ao longo do tempo, basta ver as várias versões da DSM, é possível de se observar a forma do próprio diagnóstico se ir expressando de forma diferente na pessoa ao longo do tempo. E para isso mais uma vez lá estará o diagnóstico acompanhado do respectivo profissional de saúde para ajudar a compreender. E não como nos rótulos, os verdadeiros, em que aparece uma imagem de uma pessoa e um número de telefone, em que normalmente ninguém nos atende do lado de lá. Os diagnósticos não são perfeitos, mas deve ser adequado e compreensivo daquilo que é a pessoa, além das suas queixas. E também nos cabe a todos nós, profissionais de saúde que lidamos diariamente com os diagnósticos, mas também os próprios, as famílias e outros técnicos que lidam com as pessoas, tais como os professores. Cabe a todos nós lidar com os diagnósticos de uma forma respeitosa e saber que o diagnóstico não é a pessoa, é uma parte dela. E que a pessoa deve ser igualmente respeitada nos seus Direitos Humanos.

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