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Previsões transparentes

Esta manhã pesei-me! Não o devia ter feito dizerem-me depois. Percebi isso no instante em que os números na balança pararam. Seja no inicio do ano ou em outras situações as pessoas gostam de fazer previsões. E ainda mais parecem gostar de acertar ou ter essa crença. Mas a maior parte das vezes isso não acontece. Mas então porque as fazem? Ainda por cima, as pessoas são péssimas a prever o futuro quando este não as beneficia. O optimismo irrealista faz as pessoas pensarem em coisas negativas que têm menos probabilidade de acontecer com elas do que com outras pessoas, e isso dificulta a tomada de decisões. No Espectro do Autismo também há algumas tendências para as previsões, mas ainda assim parece que ninguém lhes liga. E por isso, tal como na imagem, continuam a pegar na bola de cristal e ver o que o futuro lhes reserva. Neste caso, a imagem invertida para onde estão a apontar!! 

Na Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) cada vez mais faz sentido em falar de uma forma mais abrangente, seja na heterogeneidade e pluralidade das características do próprio diagnóstico. Mas também nas múltiplas e diferentes condições psiquiátricas que aparecem associadas ao diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. Se esta questão é vital no adulto, até pela própria dificuldade que as diferentes condições psiquiátricas colocam no diagnóstico de PEA. Por exemplo, são muitas e frequentes as situações de adultos que são diagnosticados com Perturbação Bipolar ou com Depressão, quando na realidade apresentam um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo e adicionalmente desenvolveram um outro diagnóstico. Enquanto outros foram diagnosticamos com Perturbação de Ansiedade Social ou Generalizada, quando na realidade aquilo que melhor ajuda a enquadrar a pessoa é uma Perturbação do Espectro do Autismo e que mais tarde no desenvolvimento se foi consolidando estas outras características destas outras condições.


Nesta altura é comum as pessoas começarem a perguntar se afinal tudo é do espectro do autismo? A resposta é simples - Não! Mas se atendermos aos estudos científicos e à realidade clinica e descrição das próprias pessoas é evidente que desde o inicio do desenvolvimento aquilo que teve maior presença na evidência comportamental foram as características da PEA e que posteriormente foram surgindo um perfil de funcionamento mais ansiogénico ou depressivo.


Mas nem tudo é espectro do autismo. E a perturbação da ansiedade na adolescência por exemplo tem sido associada ao desenvolvimento de vários outros diagnósticos psiquiátricos. A perturbação de ansiedade, tais como a ansiedade social e a perturbação de pânico, são as condições mais prevalecentes no mundo ocidental, com valores estimados de 32%. As perturbações de ansiedade normalmente ocorrem na infância ou adolescência e co-ocorrem frequentemente entre si e/ou com outros diagnósticos psiquiátricos que surgem posteriormente, tais como depressão, perturbação de adição com substâncias e comportamento suicida. Além disso, as perturbações de ansiedade na infância e adolescência estão associados a vários resultados funcionais adversos na idade adulta, como redução da satisfação com a vida, comprometimento familiar e social, desempenho educacional insuficiente e ajustes inadequados no trabalho.


No caso da ansiedade em adolescentes com autismo, esta é um forte preditor de ideação suicida, perturbação bipolar, depressão e outras condições psiquiátricas no início da idade adulta. Sabemos que as pessoas com autismo têm maiores probabilidades de ter outras condições psiquiátricas, como ansiedade e depressão. Esta questão em si parece não trazer novidade nenhuma. No entanto, parecem existir dados que demonstram que a ansiedade é predicativa dessas outras condições psiquiátricas, independentemente de um diagnóstico de autismo. O que leva a uma chamada de atenção redobrada para a classe médica e psicológica no sentido de terem presente a gama diversificada das características de uma pessoa autista. Como as pessoas com PEA podem estar em maior risco de comorbilidades psiquiátricas e podem apresentar uma trajectória diferente da sintomatologia de humor e ansiedade, é essencial uma triagem precoce e contínua nessa população.


Se estivermos apenas a avaliar o espectro do autismo, ou apenas a avaliar a phda ou a ansiedade, vamos ter sérios problemas na maior e melhor compreensão acerca da pessoa que temos na nossa frente. A ansiedade na adolescência constitui um importante factor de risco no desenvolvimento de diagnósticos psiquiátricos e ideação suicida. E esta ansiedade revela predições únicas para para os diferentes níveis de ansiedade, além do risco conferido pela PHDA e PEA na infância. Tudo isto enfatiza a importância de olharmos com mais atenção para a trajectória que estas perturbações têm ao longo do neurodesenvolvimento.

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