A Perturbação do Espectro do Autismo é uma perturbação do neurodesenvolvimento de origem neurobiológica, certo? E caracterizada por um défice na utilização da comunicação adequada em contexto social, correcto? Com dificuldades em seguir as regras de conversação e narração, verdade? E com evidência de comportamentos estereotipados ou repetitivos, certo? E também sabemos que esta condição ocorre ao longo da vida e que pode ser diagnosticada precocemente na infância. No entanto, a evidência mostra-nos que cerca de 40% das crianças não obtêm um diagnóstico compreensivo antes dos quatro anos de idade. Ainda que uma percentagem significativa de pais, em percentagem acima dos 80%, apresenta preocupações em relação aos comportamentos dos seus filhos até aos três anos de idade. Ao que parece o diagnóstico continua a ser feito antes dos quatro anos de idade principalmente quando as evidências das dificuldades é bastante marcada e visível, e com um impacto significativo em vários contextos. Mas tal como durante muitos anos se soube mais acerca dos rapazes comparativamente às raparigas no Espectro do Autismo. Não sendo por acaso que durante muito tempo houve uma ideia de a diferença entre a prevalência de Perturbação do Espectro do Autismo nos rapazes e raparigas foi de 4:1. Quando na verdade esta diferença parece ser verdadeiramente menor, e a prevalência parece estar mais próxima de 2:1. Também é verdade que pouco se sabe da prevalência da Perturbação do Espectro do Autismo nas minorias étnicas e raciais. Por exemplo, nos Estados Unidos tem sido verificado uma diferença significativa no diagnóstico atribuído a crianças Afro-Americanas e Hispânicas quando comparadas com crianças caucasianas. Ou seja, as crianças Afro-Americanas estão a ser identificadas em menor número e muito mais tarde. Além de estarem a receber uma melhor resposta em termos das necessidades de intervenção clínica. O que leva a que se pergunte se a expressão comportamental da Perturbação do Espectro do Autismo é diferente consoante se esteja a falar de uma pessoa de etnia negra ou caucasiana? Será uma questão sensível para muitos de nós. No entanto, é algo que precisa de ser colocado, tendo em conta o impacto negativo que este enviesamento está a ter na vida das pessoas. Por exemplo, é preciso verificar se nas crianças negras há ou não uma maior probabilidade de co-ocorrência de Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental (Défice cognitivo) do que nas crianças caucasianas. Até porque tem sido encontrado diferenças genotipicas e fenotipicas em crianças negras em perturbações neuropsiquiátricas como a PHDA, Esquizofrenia e Alzheimer. E ao nível fenotipico tem sido encontrado relatos de pais de crianças negras e com um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo e que referem que os seu filhos adquiriram mais tardiamente no desenvolvimento a linguagem, seja as primeiras palavras mas também as frases. Sendo que estas crianças negras quando comparadas com crianças caucasianas com o mesmo diagnóstico apresentam características semelhantes em relação aos comportamentos estereotipados e repetitivos. Assim como na área social, os comportamentos observados e o impacto verificado é também semelhante. Ou seja, se estas crianças apresentam com uma maior probabilidade estes sinais, e que costumam ser aqueles que mais frequentemente chamam a atenção dos pais e dos profissionais de saúde. Então temos que estas crianças negras, apesar de apresentarem estas evidências comportamentais com compromisso no desenvolvimento, ainda assim estão a ser sinalizados mais tardiamente. O que leva a colocar este enviesamento racial no diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo.
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