Post | Autismo no Adulto
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Perguntas com respostas diferentes

Perguntaram-me hoje, e já me têm perguntado outras vezes - Quais as características das pessoas autistas que levam a ter um impacto negativo no mercado de trabalho?


Eu compreendo a pergunta e o porquê dela continuar a ser colocada. Mas a minha resposta cada vez mais é: 1) a pergunta necessita de ser reformulada; 2) a pergunta a colocar deverá ser, quais as variáveis que melhor explicam a dificuldade do acesso e manutenção das pessoas autistas no mercado de trabalho?; 3) é preciso verificar as dificuldades que as Organizações, chefias e trabalhadores e empresas de recrutamento e selecção, na sua grande maioria não autistas, e que precisam de ser sensibilizados, informados e ajudados a compreender o que é o autismo.


Se eu partir do principio que são as características de um determinado grupo de pessoas que as dificulta na entrada e manutenção no mercado de trabalho, vou procurar olhar para eles como alguém a capacitar. E esta dinâmica não é apenas no autismo que se passa. Posso dar um outro exemplo - o Bullying. Durante muito tempo a intervenção era quase exclusivamente feita com a vitima e o agressor. Esquecendo muito frequentemente que a maior parte dos envolvidos neste processo, os espectadores, não estavam a ser envolvidos. Além do mais, passou a ser possível através da mediação restaurativa ajudar a vitima e o agressor a poderem lidar com o sucedido. Ou seja, ao invés de uma justiça retributiva passamos a ter uma justiça restaurativa.


No mercado de trabalho e de como este olha para as pessoas autistas precisa de ser adoptado um sistema semelhante. É preciso possibilitar a que as próprias pessoas autistas possam estar envolvidas e próximas do tecido empresarial para ajudar a compreender o que é e o que representa a contratação de uma pessoa autista. Esta não é apenas uma mais valia, como por vezes se quer fazer passar. É uma pessoa adulta e com vontade e direito em trabalhar. A pessoa autista não é mais nem menos que uma outra pessoa qualquer. É uma pessoa e que tem uma determinada certificação para se poder candidatar a determinada oferta de trabalho. Haverá certamente pessoas autistas mais capazes para determinadas funções, assim como pessoas não autistas. Fazer perdurar esta crença de um qualquer super-poder, ainda que compreensível, mas é ele próprio um mecanismo de perpetuar do próprio estereótipo.


É preciso fazer adequações ou adaptações no local de trabalho? Sim, é preciso. Tal como o é quando se implementa um novo processo de trabalho numa nave industrial. Ou quando se quer melhorar a condição dos trabalhadores para obter uma maior satisfação com a realização do trabalho. As adaptações e adequações que se podem equacionar para as pessoas autistas não são assim tão distantes daquelas que outras pessoas não autistas possam beneficiar. Por exemplo, ter um procedimento de trabalho escrito e complementado com pistas visuais pode ser facilitador para a realização de um qualquer conjunto de actividades. Ou então, poder usar fones com cancelamento de ruído pode ajudar a melhor o bem estar devido à exposição ao ruído no local de trabalho.


Os exemplos são muito e é possível de demonstrar que os mesmos irão beneficiar todos nas Organizações, inclusive a própria Organização e nos seus resultados financeiros.


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