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Pelo amor da ciência: Os autistas também amam

As dificuldades no desenvolvimento e manutenção de relações é central no diagnóstico de Autismo. Mas isso não significa que os autistas não amam ou que não têm relações significativas. Como diz o poeta "Amo como o amor ama. Não sei razão pra amar-te mais que amar-te." Fernando Pessoa.

A investigação realizada nas últimas décadas tem demonstrado a importância da amizade para o bem estar emocional, físico e psicológico. Adultos que tenham relações de amizade estáveis, positivas e duradouras têm reportado viver mais felizes, saudáveis e durante mais tempo. Como tal as relações amorosas têm demonstrado ter um papel central na vida adulta. E o interesse pela sua compreensão e papel activo na vida da pessoa tem crescido. Não obstante sentirmos que as relações de amizade e amorosas mudam ao longo do tempo e que se tornam mais complexas e difíceis de estudar. Ainda assim continua a ser um foco de interesse na ciência e para as pessoas em geral. Contudo, a maioria da informação que temos acerca destas áreas provem de adultos neurotipicos. Como tal, pouco se sabe acerca do desenvolvimento e experiência das relações de amizade e românticas dos adultos autistas e mais especificamente das mulheres.


É consensual que os autistas, desde a infância, percebem a amizade de maneira diferente. Tendem a ter menor número de amizades e a ser menos reciprocas. E a amizade parece ser baseada principalmente em actividades do que em partilhas emocionais. Estes factos têm sido largamente documentados na literatura cientifica e relatos na primeira pessoa de autistas. Contudo, a maioria destes estudos têm sido realizados em rapazes autistas. Sendo que estes experienciam diferentemente a amizade comparativamente às raparigas autistas.


As raparigas autistas tendem a ter relações de amizade mais próximas comparativamente aos rapazes e tendencialmente envolvem-se em actividades diferentes. As raparigas autistas podem passar mais tempo a falar com amigos, enquanto os rapazes podem tendencialmente ocupar mais tempo a jogar videojogos. As raparigas autistas tendem a ter actividades conjuntas em paralelo ao invés de actividades solitárias, mais típicas nos rapazes autistas. Apesar de se verificarem diferenças nas relações de amizade entre rapazes e raparigas autistas. As diferenças entre as raparigas autistas e as neurotipicas não são assim tão evidentes.


As raparigas autistas reportam uma rede social mais pequena e as relações de amizade são sentidas/vividas como sendo mais intensas. É comum que uma relação de amizade de uma rapariga autista possa ser vivida como um foco importante da sua vida social. E a dedicação a esta relação possa ser feita de uma forma quase exclusiva. As raparigas autistas também pensam ser mais difícil compreender e gerir o conflito nas suas relações com os seus pares. E parecem estar mais expostas a situações de bullying que qualquer outro grupo.


Contudo, quando perguntamos às mulheres autistas sobre as suas relações sociais, de amizade ou amorosas os níveis de satisfação são maiores do que aqueles percepcionados pela maioria das pessoas neurotipicas. Como tal é fundamental que os estudos científicos se possam começar a debruçar sobre temas considerados à partida como conhecidos até como forma de ajudar a mitigar o conjunto de crenças erróneas existentes em relação aos mesmos.

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