Fomos para a rua e levamos um microfone connosco para recolher as ideias que as pessoas têm acerca do que é o autismo. Há pouco mais de 80 anos que se fala de autismo, e há cerca de 40 anos que a palavra autismo entrou nos manuais de diagnóstico. Mas na última década temos assistido a um crescente movimento de várias pessoas individualmente e em grupo, Associações e Organizações de pais com filhos autistas e até mesmo de pessoas autistas adultas. Além do próprio reconhecimento dos profissionais de saúde, associado aos órgãos de comunicação na divulgação de mais e melhor informação junto da comunidade. Mas apesar de todos estes esforços contínuos sabemos mais e melhor o que é o autismo? E se sim, por que é que continuamos a assistir a situação tão dramáticas e demoradas nas respostas terapêuticas e de diagnóstico de várias pessoas. Sejam aquelas com necessidades socioeconómicas, mas também outras que sendo adultas continuam a ver difícil aceder à possibilidade de serem avaliadas e diagnosticadas. Já para não falar das dificuldades que se assiste para a integração das pessoas autistas no mercado de trabalho. E em toda a autonomização e independência das pessoas autistas ao longo da vida. E além disso, quem continua a trabalhar e a partilhar a vida com pessoas autistas, continua a ouvir relatos dramáticos de afirmações ou perguntas que foram feitas em relação ao autismo ou à pessoa autista. Tem dúvidas? Faça como nós e vá perguntar às pessoas o que elas acham que é o autismo!
Autismo?! Não é aquela coisa das crianças que não sabem falar?!, responde a primeira senhora. À medida que íamos falando com as pessoas na rua, entregávamos um pequeno folheto explicativo do que é o autismo e de um conjunto de endereços electrónicos de onde podem procurar mais e melhor informação sobre o tema. Sim, sim, sei. Lembro-me daquele filme já há muitos anos com o Tom Cruise. Acho que ele tinha um familiar que tinha isso. E que tinha certos comportamentos estranhos. Já não me lembro muito bem de quais, mas apenas de que eram estranhos!, refere um senhor de meia idade. Um jovem que tínhamos acabado de entrevistar e que tinha respondido que era uma doença das crianças, voltou atrás depois de lhe termos dado o panfleto explicativo sobre o autismo. Deve ter lido rapidamente a informação. Autismo nos adultos?! A sério!? Vocês sabem que não podem estar a divulgar informação falsa, certo? Isso pode ser denunciado! Esta coisa das fake news agora está muito na moda!, comentou rapidamente. Achamos que seria importante dizer-lhe algumas palavras para além de reforçar a ideia clara de que não estávamos a partilhar nenhuma informação falsa.
Olhe não sei muito sobre isso. Nunca conheci ninguém com autismo!, disse uma outra senhora. Esta questão trazida por esta pessoa pareceu-nos fundamental. É importante que as pessoas autistas possam ter uma outra visibilidade. Até para que a sociedade possa compreender a realidade daquilo que o Espectro do Autismo representa. Sendo que nos manuais de diagnóstico essa informação não está assim tão clara. Além de que a maioria das pessoas na Sociedade não contacta directa ou indirectamente com os manuais de diagnóstico.
Sim, sei muito bem. É uma doença que acontece quase sempre em rapazes. Sei disto porque tenho dois sobrinhos com essa doença, disse uma senhora de meia idade.
Estas e muitas outras respostas que muitos de vocês já ouviram representam de forma clara o ainda grande desconhecimento que existe acerca do autismo. Mas não se pense que é apenas nas pessoas sem formação na área da saúde que isto ocorre. Ainda continua a haver algum desconhecimento sobre aquilo que representa o Espectro do Autismo, e principalmente na pessoa adulta, e mais ainda junto das mulheres. O esforço para chamar a atenção de todos para este lado do Espectro do Autismo vai no sentido de sensibilizar toda uma comunidade para a necessidade de dar uma resposta às grandes necessidades das pessoas autistas adultas em todas as áreas de vida e sempre com grande sofrimento psicológico associado. Começando desde logo pelo seu mais fácil reconhecimento para que seja possível o diagnóstico. E para que as pessoas autistas ainda por diagnosticar sintam maior facilidade em procurar ajuda, tendo a ideia de que irão ser adequadamente atendidos nas suas necessidades.
Este trabalho não termina aqui, e precisa da colaboração de todos, sejam pessoas não autistas mas também pessoas autistas. Mas fiquem cientes de que há cada vez mais informação disponível sobre o autismo. Seja nos próprios organismos de saúde nacional e internacional ou dos próprios profissionais de saúde individualmente. Mas também as Associações e Organizações directamente relacionadas com o autismo têm tido um papel fundamental na ajuda do esclarecimento e orientação das pessoas. Em caso de dúvidas pergunte.
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