São cada vez mais as situações de jovens ou adultos com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) que apresentam comportamentos de consumos preocupantes de álcool ou outras substâncias psicoactivas (e.g., cannabinóides, etc.).
Foi publicado ontem no jornal Público a notícia - “Álcool está a levar mais jovens às Comissões de Protecção”. Por sua vez no jornal Observador referia-se que Portugal ultrapassou a Rússia em consumo médio de bebidas alcoólicas. Independentemente da perspectiva com que se encare este fenómeno, o consumo de álcool em Portugal continua a ser um problema. A frase - “Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”, frase bem conhecida dos Portugueses é exemplo disso. Os resultados dos números relacionados com os consumos de álcool em Portugal relativamente aos anos de 2016-2017 são apresentados hoje pela SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Adictivos e nas Dependências) na Assembleia da República.
Cada vez mais me tenho deparado com casos de jovens e adultos com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) em que para além das dificuldades associadas a algumas das características comportamentais deste quadro. Sejam dificuldades em se organizar no estudo e/ou trabalho. Ou ser mais rígido e inflexível na compreensão e interpretação de situações sociais ao ponto de levar a alguns comportamentos sociais mais desajustados. São cada vez mais os casos em que os pais solicitam apoio e respostas para as dificuldades dos seus filhos/as relacionados com os consumos de álcool e/ou outras substâncias psicoactivas (e.g., cannabinoides).
Muitos pais referem mesmo que nunca pensaram que os seus filhos pudessem consumir álcool ou outras drogas e muito menos depois de saberem que eles/as eram autistas. Alguns trazem até a ideia que o facto de serem autistas os poderiam afastar dos consumos. Por exemplo, é frequente alguns pais dizerem que já ouviram falar de histórias de autistas que abominam o comportamento de beber álcool ou consumir outras drogas. E como sentem que os seus filhos não apresentam grande iniciativa para a interacção social e muito menos para as saídas nocturnas em bares ou discotecas. A ideia de que estariam protegidos para o consumo excessivo e problemático de álcool foi crescendo. Pelo menos até chegar ao momento em que se depararam com esta dificuldade.
Se pensarmos nas dificuldades que os autistas vão sentindo ao longo da sua vida é compreensível pensar que muitos deles desejem aliviar algumas dessas mesmas dificuldades. Por exemplo, as dificuldades na interacção social ou o simples facto de conseguirem ir a uma festa na faculdade. Alguns jovens ou adultos autistas descobrem em determinado momento que o consumo de algumas bebidas alcoólicas as ajuda a desinibir. Ao ponto de sentirem ser capazes de se comportar e fazer coisas como nunca antes tinham conseguido. Ao ponto de se sentirem de alguma forma reforçados ou até mesmo aceites no grupo. Este reforço gigantesco poderá servir certamente como factor de manutenção de alguns destes consumos. O facto de apresentarem uma maior propensão para a repetição de determinados comportamentos, até mesmo de uma forma estereotipada pode aumentar a probabilidade de os consumos de álcool se tornarem problemáticos. O resto é feito pelas características aditivas no próprio organismo já em si fragilizado pelo facto de apresentar um diagnóstico de PEA.
Como em muito outros assunto no autismo é fundamental deixarmos cair os assuntos tabu para melhor ajudar a proteger os jovens e adultos autistas mas também ajudarmos a família a como responder nestas situações.
tchim-tchim
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