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Há coisas que nem o House sabe

Muitos ainda estarão recordados da mítica figura do Dr. House como aquele médico que nunca falhava o diagnóstico e com uma total certeza acerca das suas afirmações. E por que é que fui recuperar essa ideia agora? Apesar do número crescente de casos diagnosticados com uma Perturbação do Neurodesenvolvimento, nomeadamente Perturbação do Espectro do Autismo, ou com Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental. Também é verdade que continua a haver um número significativo de necessidades ao nível dos cuidados médicos que as pessoas com estas condições apresentam e que não estão a ser atendidas. É sabido que uma formação adequada dos profissionais de saúde, nomeadamente ao nível pós graduado, relativamente à identificação destas condições, mas também em relação à compreensão de muitas das suas necessidades de natureza médica e psicológica, seria uma forma de reduzir o não atendimento destas mesmas necessidades. Mas será que esta formação é feita? E se sim, porque é que estas necessidades continuam a não ser atendidas em tão grande número? Ou seja, será que os médicos e psicólogos estão a ser adequadamente formados para poderem identificar adequadamente estas condições? E se sim, porque é que continuamos a verificar um tão grande número de casos com suspeita de Perturbação do Espectro do Autismo na vida adulta sem estarem diagnosticadas, sendo que uma boa parte das situações apresentam características bastante evidentes? E no caso das situações clinicas que já estão identificadas, porque é que continuamos a verificar um tão grande número de casos com necessidades médicas e psicológicas que não estão a ser atendidas? Por exemplo, no caso das pessoas adultas com Perturbação do Espectro do Autismo, as situações de suicídio ou comportamentos auto-lesivos, mas também de Perturbações de Ansiedade e do Humor, parecem estar a ser ou negligenciadas, sendo enquadradas no âmbito do seu perfil de funcionamento do Espectro do Autismo, e a não terem uma resposta interventiva adequada. E do ponto de vista da intervenção psicológica, ainda são muitas as queixas reportadas face à aparente não eficácia dos modelos de intervenção utilizados para conceptualizar as questões trazidas por esta população para a clínica. As Perturbações do Neurodesenvolvimento continuam a trazer à prática clínica uma contínua necessidade de reflexão acerca da conceptualização dos casos, nomeadamente devido às fronteiras ténues entre estas e outras perturbações psiquiátricas. Mas também na prática clínica ao nível dos próprios modelos de intervenção. As Terapias Comportamentais e Cognitivas, grandemente usadas num largo conjunto de situações e com eficácia comprovada em relação aos benefícios terapêuticos alcançados, deixa de ser assim tão eficaz quando aplicado sem qualquer tipo de adaptação nas Perturbações do Neurodesenvolvimento. Seja ao nível da investigação cientifica que precisa de olhar para estes resultados para reflectir no seu trabalho cientifico a procura de uma resposta para estas questões. Mas também ao nível da reflexão da prática clinica de todos nós profissionais de saúde que intervimos nestas áreas. E não esquecendo a reflexão que a Academia precisa de fazer, de forma conjunta com os cientistas e os clínicos, para que os seus conteúdos programáticos se encontrem adequados às necessidades da população. Sob pena de continuarmos a tomar Vicodin para o alivio das necessidades, tal como o House tantas vezes o fez, é urgente repensarmos a realidade clinica e existencial vivida nas Perturbações do Neurodesenvolvimento.


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