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Foto do escritorpedrorodrigues

Há algum autista na sala?

Agora que cada vez mais um maior número de nós sabe que a Perturbação do Espectro do Autismo ocorre ao longo do ciclo de vida, começa a ser importante centrar a nossa preocupação em outras questões. E atendendo a que a maior parte da vida de cada um de nós é vivida enquanto adulto, é fundamental saber quais as condições em que as pessoas autistas adultas estão e como podemos trabalhar todos para a mudança necessária. Não sei se vocês têm conhecimento, mas as taxas de emprego para pessoas autistas são muito baixas. Ainda mais baixas quando comparadas com as pessoas de outros grupos com Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental, Síndrome de Down, etc. E se não quiserem participar a bem, uma coisa vos digo, vão participar a mal. Atendendo a que as pessoas autistas não estão a ser integradas no mercado de trabalho não obstante terem competências para tal. Irão continuar a ser beneficiários de apoios e pensões ao longo da sua vida. E como tal, seremos todos nós enquanto contribuintes que iremos continuar a contribuir. Não que o problema seja contribuir, mas parece-me absurdo quando há outras formas de poder resolver a situação, através da integração das pessoas autistas no mercado de trabalho. E se pensa que você não pode fazer nada porque não é o empregador e não está nas suas mãos a decisão de contratar, fique certo que está nas suas mãos o ser tolerante para com os seus colegas, sejam autistas ou não.

Como sempre, as grandes barreiras da Humanidade prende-se com o comportamento humano. E as principais barreiras ao emprego para as pessoas autistas inclui: 1) Estigma, 2) Falta de compreensão da Perturbação do Espectro do Autismo e 3) Dificuldades de comunicação.


Confesso que é frustrante pensar que as barreiras se continuam a centrar em questões que me parecem facilmente ultrapassadas e que estão ao alcance de todos nós. O estigma, este continuar a considerar as pessoas com uma perturbação mental, neste caso o autismo, como pessoas malucas, doidas, incapazes, deficientes, anti-sociais, mal educados, preguiçosos e outros adjectivos reforça em todos nós, os que o dizem e aqueles que o ouvem de que as pessoas autistas são seres inferiores e menos capazes. Na verdade, não será antes ao contrário? Aqueles que não têm à partida nenhuma característica conhecida que comprometa as suas capacidades e que tem acesso a pensar as coisas de outra forma e não o fazem!


É fundamental pôr em prática uma abordagem holística do emprego para pessoas autistas, que vise facilitar a comunicação entre as principais partes interessadas, abordando atitudes e compreensão da PEA no local de trabalho, usando abordagens baseadas nas forças e não nas fraquezas e fornecendo experiência de trabalho precoce às pessoas autistas.


Parecemos muito mais capazes a olhar para as dificuldades das pessoas, aquilo que aparentemente elas não estão a conseguir fazer. Não é de estranhar visto que a informação partilhada nos manuais de diagnóstico reforça esse enviesamento. Quando descreve aquilo que são as características associado a palavras como deficit na verdade está a dizer às pessoas que aquilo é um aspecto negativo. E hoje em dia todos têm acesso a essa mesma informação, que é lida sem a ajuda de um profissional de saúde que ajude a complementar. Ainda assim, se os cidadãos que não sendo profissionais de saúde sentem não ter capacidade para compreender algo no comportamento da outra pessoa. Talvez possam pensar que o gozar, humilhar, por de parte, não ser tolerante ou indiferente está a causar mal estar e danos, alguns deles irreversíveis, na outra pessoa. E essa competência já é algo próprio da espécie humana.


Apenas 40% das pessoas autistas têm um emprego remunerado. Se nós pensamos que no presente momento estamos a passar por maiores dificuldades quando a taxa de desemprego ameaça chegar aos 15%. Imagem as pessoas autistas que vivem isso desde sempre e com números bastante superiores. E se pensa que as pessoas autistas não têm capacidade para pensar sobre o assunto, está muito enganado.


Continuarmos ao longo do processo de educação e formação da pessoa autista a não promover aquilo que são as suas forças e continuarmos a vê-las como parte do problema. E sim, estou a referir-me precisamente em parte aos seus interesses restritos. Estaremos mais longe de poder promover uma capacidade de adaptação desejada neste grupo. Certo que nem todas as pessoas autistas têm estes interesses restritos ou determinados interesses que possam ser facilmente vistos como potenciais aspectos a desenvolver com vista à empregabilidade. Mas terão, como todos têm competências emergentes que precisam de ser compreendidas e ajudadas a crescer.


As dificuldades de comunicação são frequentemente percebidos como a barreira mais desafiadora para a manutenção do emprego para todos os principais interessados, excepto para os empregadores, com estes a considerarem a comunicação como o facto menos desafiador. É possível que essas diferenças possam reflectir uma falta de reconhecimento ou

conhecimento das dificuldades de comunicação das pessoas autistas que enfrentam no seu quotidiano no local de trabalho, contribuindo potencialmente para que as suas necessidades não sejam atendidas adequadamente.


O facto de poder haver ao longo do seu processo de educação e formação a realização de estágios curtos que os possa ajudar a ter contacto com o mercado de trabalho é fundamental. E arrisco-me a dizer que isso é fundamental para qualquer jovem. Poder aproximar duas partes interessadas em todo este processo é fundamental e vai responder às necessidades e apelos tão frequentemente reiterados de ambas as partes, seja dos empregados mas também dos empregadores.


A aparente disparidade entre os principais interessados neste processo, empregadores, autistas adultos, famílias, técnicos de recrutamento, profissionais de saúde e investigadores, e particularmente entre adultos autistas e outros principais partes interessadas, destaca a necessidade crítica de levar em conta as vozes e experiências das pessoas autistas quando se procura desenvolver prioridades, estratégias e intervenções.


O estigma e a falta de compreensão da PEA no local de trabalho pode contribuir para as pessoas autistas serem hesitantes em divulgar o seu diagnóstico. De facto, os adultos autistas identificam o estigma como a questão mais desafiador na obtenção de emprego.


A Perturbação do Espectro do Autismo e o trabalho que precisa de ser feito para o respeito pela sua dignidade humana poderá ser perfeitamente aproveitado enquanto paradigma para a mudança necessária para a Sociedade de uma forma global. O respeito pela neurodiversidade é um pilar constantemente ameaçado em várias partes do mundo e em relação a determinados grupos, principalmente minoritários. E que devido a determinados comportamentos seus não compreendidos pela maioria, estes últimos decidem pela força submeter os primeiros a uma condição inferior.

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