Hoje é dia doze de Outubro. Passaram dois dias da celebração do Dia Mundial da Saúde Mental. Estes dias deviam ser celebrados todos os dias até que aquilo que celebramos deixasse de ser necessário de ser recordado, disse Raúl (nome fictício). A minha saúde mental não é apenas o meu diagnóstico ou a prescrição que eu necessito de pedir ao médico para me voltar a passar, diz Catarina (nome fictício). A minha saúde mental é poder ter esperança que dos vinte curriculum vitae que enviei a semana passada pelo menos um me possa responder e chamar para entrevista, disse Telmo (nome fictício). Ter saúde mental é poder ter sonhos de um dia vir a ter uma família e não ter logo de seguida alguém a dizer para me deixar dessas coisas, diz Cláudia. Um destes dias perguntaram-me no Centro de Dia se eu já estava melhor. Quando eu lhes perguntei o porquê, disseram-me que era por causa de eu ter chegado a sorrir. Será que uma pessoa por ter uma perturbação mental não pode sorrir?, questiona o Carlos (nome fictício). Não há saúde sem saúde mental, dizem por ai. Deviam dizer isso aos médicos a que eu às vezes vou e que dizem que aquelas coisas são da minha cabeça, diz Cláudio. Ter saúde mental é poder falar livremente da minha pessoa e do facto de poder ter uma perturbação psiquiátrica sem que as pessoas me discriminem ou olhem para mim como se fosse uma coitada, diz Ângela. Saúde mental?! Saúde mental é poder decidir as nossas próprias coisas sem ter uma fila de pessoas a escrutinar tudo aquilo que acabamos de dizer, diz Antero (nome fictício). Em criança disseram-me que eu não tinha jogo simbólico e não sabia fazer de conta. Mas isso não é verdade. Hoje sou um adulto de quase 50 anos e passei grande parte da minha vida a fingir que sou feliz e alguém que eu não sou, diz António (nome fictício).
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