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F-R-A! FRÁ, F-R-E! FRÉ, P-E-A! PEA! Na minha Universidade estudam Autistas. Hurra! Hurra! Hurra!

Este ano lectivo 2018/2019 entraram 231 candidatos ao Ensino Superior através do Contingente Especial. Alguns apresentem um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. E agora?!?

Neste momento acompanho a nível psicológico 22 estudantes do Ensino Superior de ambos os sexos que apresentam um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (nível 1). Encontram-se em níveis diferentes. Alguns entraram este ano lectivo ao abrigo da alteração da legislação no contingente especial que alargou a sua candidatura para a 2ª fase de colocação. Outros encontram-se a meio do seu percurso. Outros ainda que já estão na 2ª fase da sua formação (Mestrado). E tenho conhecimento de alguns outros colegas psicólogos que têm situações semelhantes - estudantes universitários com PEA.


A ideia de que as pessoas com PEA não chegam ao Ensino Superior (ES) não tem uma sustentação cientificamente válida e são cada vez mais os estudos científicos que procuram demonstrar a existência de vários percursos que são testemunhos positivos acerca da "pegada" que o Autismo está a começar a deixar na Academia. Ou seja, as características diferentes que os/as alunos/as com PEA trazem para o espaço universitário acrescentam uma mais valia à Neurodiversidade que se espera que exista.


Se pensarmos no número de casos com PEA que são acompanhados ao longo dos diferentes ciclos de formação (1º, 2º, 3º e secundário). Que são casos de sucesso académicos e que estão referenciados ao abrigo da legislação para as NEE's (DL 3/2008) ou Educação Inclusiva (DL 54/2018) não deveria ser estranho eu estar cada vez com mais casos de jovens que migram para o ES!


Contudo, esta situação tem vários outros contornos, como em muitas outras questões com elevada complexidade.


Continua a não haver articulação entre o Ministério da Educação e o Ministério da Ciência e Ensino Superior. Ou seja, as pessoas que são anteriormente referenciadas o seu processo não transita automaticamente para o ES. É necessário fazer uma nova candidatura. E numa boa parte das vezes os candidatos e as famílias desconhecem esta possibilidade. Inclusive porque ainda, sublinho o ainda, não existe legislação semelhante aos anteriores níveis de ensino para a inclusão do aluno no ES, Aquilo que existe são regulamentos internos das próprias universidades que adaptam os processos de candidatura dos níveis de ensino anteriores para o presente. Permitindo assim a existência de apoio adequado para estes alunos. Ainda assim, continuamos a verificar que os apoios são fornecidos de acordo com a compreensão de apenas alguns docentes. Que felizmente vão sendo mais, mas que também confere a ideia de que estes alunos estão a ser ajudados de forma misericordiosa quando estamos a falar de direitos fundamentais de todos.


Todo e qualquer processo de transição é gerador de ansiedade para a pessoa Autista. O salto para o desconhecido no processo de transição para o ES é gerador de uma ansiedade ainda maior. O que por vezes se traduz num abandono da ideia de prosseguir os estudos.


As dificuldades de muitos Autistas no planeamento e organização de um plano de trabalho e de estudo transforma o percurso de muitos deles em algo penoso e demorado, levando algumas vezes ao abandono. A necessidade de realizar os trabalhos de grupo e as ainda existentes dificuldades na interacção social e na comunicação trazem a muitos deles a impossibilidade de serem avaliados ao longo do semestre. A própria noção de semestre é de difícil compreensão e assimilação para muitos deles. Quando já estavam a ficar habituados a determinados professores e formas de trabalhar muda tudo. O referencial da mesma turma e dos mesmos colegas é uma quase impossibilidade nesta etapa. As turmas são compostas de alunos de vários anos que se encontram a realizar Unidades Curriculares. Todos um conjunto de outras dificuldades anteriormente existentes - hipersensibilidades auditivas, visuais, etc. e que continuam a existir necessitam de compreensão e integração de medidas que os ajudem a transitar de forma capaz neste processo.


Talvez a chegada do Autista à Academia nos faça a tod@s reflectir acerca da importância de abraçar a Neurodiversidade e a forma única de cada um sermos. Mas também como devemos aproveitar essa mesma forma diferente de expressão em beneficio do próprio e de todo a comunidade académica. Sermos tolerantes e inclusivos é um reflexo de uma melhor comunidade, mais saudável. A necessária adaptação dos conteúdos programáticos e outros aspectos do ensino à velocidade de aprendizagem de cada um deve mostrar a capacidade de flexibilização de todos e dos próprios conteúdos. Não basta apenas dizer que os Autistas é que são inflexiveis e rígidos ao nível comportamental e cognitivo. É importante que possamos tod@s fazer uma análise a nós próprios, à nossa conduta e forma de pensar o Outro.


Saudações Académicas!!

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