A frase que serve de titulo a este texto é frequente de ser ouvida por muitas pessoas autistas. E há também muitos leitores que irão questionar-se sobre este facto e vão perguntar-se - Mas as pessoas autistas olham nos olhos? Agora imagine que a pessoa que coloca esta mesma pergunta é um agente de autoridade? E que este mesmo agente de autoridade está prestes a intervir numa determinada ocorrência para a qual foi chamado e que não sabe quais as características presentes numa pessoa autista e de como pode e deve interagir como a mesma! Muitos de vocês conseguirão imaginar todo um conjunto de cenários que pode decorrer do facto do agente de autoridade necessitar de segurar no braço da pessoa autista, certo? Ou no caso do agente de autoridade necessitar de levantar o tom de voz para se dirigir à pessoa, certo? Nota de rodapé - o presente texto não serve o propósito de diminuir a importância do trabalho das forças de segurança pública. Nem advogar que as pessoas podem começar a usar algumas das suas características comportamentais para perpetuarem comportamentos tipificados como delituosos. Contudo, é fundamental que as forças de segurança pública possam ter conhecimento acerca de um conjunto de situações referentes às condições de muitas pessoas, nomeadamente pessoas autistas. E de como estas pessoas autistas se vêm envolvidas com determinada frequência em situações em que há necessidade de uma força policial poder ter de intervir. E como tal será fundamental para um melhor resultado em toda a situação que o agente de autoridade possa saber como melhor fazer a sua abordagem. E não é por acaso que o PIN se associou ao projecto PSP Escola Segura para realizar um conjunto de iniciativas de formação dos seus operacionais para os sensibilizar e capacitar para as condições do neurodesenvolvimento e do comportamento de uma maneira geral. Seja nas crianças e jovens em idade escolar, sabemos que há todo um conjunto de situações que ocorrem no quotidiano destas pessoas. Pode ser enquanto vitimas, e sabemos que isso ocorrem em grande frequência tendo em conta o número de crianças e jovens autistas que são vitimas de bullying. Mas também há todo um conjunto de situações em que muitas destas crianças e jovens se vêm envolvidas em situações que devido à sua ingenuidade e maior dificuldade em compreender naquilo em que estão envolvidos que os leva a estar em maior risco e perigo. E também haverá certamente as situações em que as crianças e jovens autistas estarão enquanto agressores e perpetradores de algum tipo de comportamento que necessita de ser regulado por meio de terceiros. Mas também pensamos que nos adultos estas situações, ainda que com outras tipologias vão continuando a acontecer. Seja nas situações em que alguns deles ainda a viver com os seus pais, mas também com os seus companheiros, são acusados de estarem a ter um comportamento agressivo. Mas também todas as situações em que as pessoas adultas acabam por contactar com agentes de autoridade. Por exemplo, numa situação típica de operação stop, num acidente de viação, uma ida ao tribunal enquanto testemunhas ou vitimas de um crime, uma qualquer notificação, meltdowns, etc. Seja porque razão for é fundamental que possa haver conhecimento por parte dos profissionais o comportamento que necessitam e desenvolver no contacto com uma pessoa autista. Nas situações em que há necessidade de intervir uma agente de autoridade, mesmo numa situação típica de operação stop e requisição dos documentos do condutor e da viatura podem levar a uma situação mais difícil para ambos, agente e condutor. O facto do condutor, sendo autista, poder ficar mais ansioso por ser a primeira vez em que é mandado parar numa operação stop e não sabe como agir nesta situação pode desencadear todo um conjunto de comportamentos que levantem algum suspeita do agente. O facto de poder não fazer contacto ocular ou fazê-lo de uma forma mais atípica, não saber onde estão guardados os documentos ou ligar novamente o carro para os ir buscar a casa que é o sitio onde eles estão guardados, deixando o agente de autoridade no local. Estas e outras situações, podendo ser observadas como anedóticas, são reais e trazem grandes inconvenientes que necessitam de ser tidos em conta.
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