É comum pensar-se que os Autistas não conseguem perceber as emoções nos Outros. Colocar-se nos "sapatos do Outro"é quase sempre uma dificuldade, inclusive devido à possível interpretação literal também existente nesta condição.
As pessoas Autistas sempre foram entendidas como alguém com dificuldades, ainda que com intensidade diferente, na leitura das emoções no Outro. É comum a existência de episódios mais caricatos devido à dificuldade da pessoa Autista em ler determinada pista social na situação em si ou na(s) pessoa(s) envolvida(s).
Há emoções, mas também a forma de as expressarmos que fazem com que as mesmas possam ser mais facilmente compreendidas por um conjunto alargado de pessoas. Contudo, há um leque variado de emoções que se torna mais difícil a sua compreensão e esse facto implica bastante no desenvolvimento da situação. Como por exemplo, a emoção de arrependimento e alivio.
Por exemplo, considere o seguinte cenário - perder o autocarro que usa normalmente para se deslocar para o trabalho porque paramos para conversar com um vizinho. Uma situação que certamente já ocorreu a muitos. Se a situação alternativa for - apanhar o autocarro e chegar a horas ao trabalho porque não paramos para conversar com ninguém. É comum sentirmos algum tipo de arrependimento de termos optado por parar para conversar com o vizinho. Em parte porque a alternativa é melhor que o que aconteceu na realidade - chegar atrasado ao trabalho. Mas se o cenário alternativo for negativo - por exemplo, o autocarro que perdi envolveu-se num acidente. Tendencialmente irei sentir alivio de ter optado por ficar a conversar com o vizinho
Arrependimento e alivio são duas emoções que muitos de nós - Neurotipicos, já sentimos. E isso fez com que olhasse-mos, pensasse-mos e agisse-mos diferentemente na Vida, certo? A questão é pensar-se que os Autistas devido à sua dificuldade em compreender as emoções dos Outros e na leituras das pistas sociais faz com que os mesmos sejam mais desajustados socialmente. Entendidos como pessoas frias, insensíveis, etc. Incapazes de sentir arrependimento ou sequer alivio.
Um estudo recente, realizado na Universidade de Kent*, utilizando a metodologia de Eye-Tracking (rastreamento do movimento ocular) veio demonstrar resultados diferentes e que apontam para o contrário - os Autistas apresentam competências no sentir das emoções em situação como as descritas anteriormente. O processo como o fazem e a própria comunicação é que apresentam características diferentes.
Estudos, estudos e mais estudos. O certo é que nos permitem reflectir acerca do muito que ainda não sabemos sobre o Espectro do Autismo e como tal devemos aprender a mostrar uma maior tolerância face aos Outros e uma menor certeza sobre o que julgamos saber.
* Jo Black, Mahsa Barzy, David Williams, Heather Ferguson. Intact counterfactual emotion processing in autism spectrum disorder: Evidence from eye-tracking. Autism Research, 2018; DOI: 10.1002/aur.2056
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