Não percebo porque é que as pessoas não são directas a dizerem as coisas?, desabafa Rudolfo (nome fictício). Nem mais, se as pessoas estão a pensar aquilo porque é que ficam à espera que nós adivinhemos?, acrescenta Telma (nome fictício). Por vezes penso que há pessoas que têm algum prazer em ver-me a errar!, diz Jorge (nome fictício). Ou então devem pensar que tudo isto é um jogo divertido!, refere Carla (nome fictício). Ou quando se põem a perguntar coisas como - Como é que estás? Ou como é que te sentes?, volta a referir Rudolfo. Todos concordaram com ele abanando a cabeça. Eu cada vez que respondo a uma dessas questões fico com a sensação de que a outra pessoa queria uma coisa diferente! Se assim o é porque é que não o pediu de forma clara? desabafa novamente Telma. Eu posso adivinhar o que as pessoas querem dizer. A sério que consigo, mas a ansiedade em torno de todas as hipóteses possíveis que tenho na minha cabeça, mesmo que tenha 99% de certeza isso significa que há aquele 1%. E como tal há sempre aquele e se...E isso é muito cansativo. O estar a questionar-me o tempo todo - Será que disse aquilo que era necessário? Será que disse a coisa certa? E na verdade as pessoas não são assim tão brilhantes a dar feedback. E como tal nós não sabemos se dissemos a coisa certa ou não, e como tal carregamos aquela dúvida por mais uns quantos dias. Acho que é muito mais a ansiedade de não ter a certeza de a pessoa estar a entender correctamente do que simplesmente errar...Até porque houve tantas vezes em criança em que eu entendi mal e errado. E as pessoas reagiam mal e até me condenavam em algumas situações...Eu acho que é a ansiedade acumulada ao longo da vida sem entendermos ao certo o suficiente do que se está a passar naquele momento. É isto que eu penso ser o mais difícil em situações sociais, tal como me tinha perguntado!, refere Telma. E ainda me irrita mais quando as pessoas que sabem que eu sou autista dizem que essas dificuldades tem a ver com as minhas características e com aquela questão da Teoria da Mente!, diz Rudolfo. As pessoas não autistas poderiam fazer um esforço para melhorar a sua comunicação. Ainda que não tenham um diagnóstico disto ou daquilo, as pessoas não pensem que não têm dificuldades na comunicação, porque o têm!, acrescenta Jorge. E depois ainda me dizem que mesmo quando eu não tenho a certeza nas coisas devo arriscar! Como se isso fosse assim tão fácil, diz Carla.
top of page
bottom of page
Comments