Pouco sei de Ornitologia e Apicultura. Já fui picado por uma abelha. Bem, talvez esteja a fugir ao assunto em cima da mesa - o acesso à pornografia no Autismo. Um assunto cada vez mais falado mas ainda envolto em demasiado secretismo, pudor, ansiedade, etc.
Há assuntos que devido à sua natureza são mais complexos de abordar. A pornografia é um deles. Seja pelas questões culturais e religiosas. Em que no caso de Portugal nos encontramos enraizados numa cultura judaico-cristã e que nos leva a fazer uma clivagem acerca do tópico. Mas também por dificuldades diversas em abordarmos a questão da sexualidade ao longo do desenvolvimento. A sexualidade dos outros e a nossa também. E se falarmos em relação à questão da sexualidade nas crianças continua a haver uma resistência imensa quase comparável aquela que a sociedade Vienense fez a Freud. Ou se falarmos acerca da sexualidade no Autismo, outra perturbação psiquiátrica ou na deficiência os humores ainda se manifestam mais visivelmente contra.
Contra porque, no caso Autismo especificamente, não há interesse nas questões da sexualidade ou interesse sexual. Assim como não haver interesse em ter um parceiro relacional ou sexual. Ou também por o Autistas não sentirem prazer ou necessidade de satisfazer os seus desejos ou fantasias. De forma muito objectiva digo que os Autistas, tal como os seus pares normativos apresentam uma gama variável de comportamentos sexuais. E como tal, também têm necessidade, desejo e constroem fantasias na esfera sexual. Contudo, seja devido às suas características nucleares - dificuldades na interacção social e comunicação, mas também por apresentarem determinadas hipersensibilidades (tácteis, olfactativas, etc). Os Autistas apresentam algumas dificuldades nesta área.
As pessoas chegam a determinado percurso do seu desenvolvimento e por razões várias sentem necessidade de aprender algumas coisas na esfera sexual. Seja porque é um tema difícil de abordar com os pais e colegas. No caso dos Autistas e devido às suas próprias dificuldades de interacção e comunicação a descoberta desta informação junto dos pais e colegas torna-se ainda mais difícil. Contudo, a necessidade em saber, explorar, perceber e sentir determinado conjunto de sensações fisiológicas, cognitivas e emocionais torna-se imperativo. Como tal, a ideia de que podem aceder a conteúdo pornográfico na internet e a facilidade com que hoje se acede à internet torna este tema imperativo de ser abordado em vários prismas.
Seja pela questão da segurança no acesso não controlado à pornografia. Mas também pela importância que a mesma pode ter do ponto de vista pedagógico. É fundamental ajudar todos a poder ter um espaço seguro para falar, pensar e sentir a sua sexualidade e as questões em seu redor. Para tal será importante que nós próprios, pais, clínicos e educadores possamos reflectir acerca da nossa posição face a este assunto e à nossa própria vivência da sexualidade. Em boa parte para nos sentirmos confortáveis a abordar o assunto com os nossos filhos, clientes ou alunos. A visualização de pornografia sem um enquadramento torna-se uma informação desajustada face à realidade. Por exemplo, podemos ter um caso de um jovem que numa primeira ou não experiência sexual decide praticar algo aprendido num qualquer site de pornografia e sentir-se, ele próprio e a seus parceira/o, frustrado(s) entre outras coisas devido à realidade não ter sido de acordo com a sua expectativa.
Não tenho interesse em ensinar ninguém, sejam pais, clínicos ou educadores em relação a este tópico. Não pretendo converter ninguém face àquilo que pode representar para o próprio a visualização de pornografia. Mas atendendo ao dados publicados no acesso à pornografia, seja por crianças, mas também jovens e adultos, homens e mulheres, estou em crer que é importante irmos falando um pouco mais abertamente sobre o tema. E ao invés de sermos apenas punitivos podermos optar por uma postura mais integradora e que transmita ao jovem autista ou não segurança para abordar o tema.
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