No ano passado, ao fim de dois meses de Covid-19, havia quem dizia que este era um vírus democrático, e que afectava todos de uma forma igual. Rapidamente pudemos constatar que a democracia nada tem a ver com o vírus, mas com com o comportamento humano. E este, também neste momento tão difícil tem mostrado que não é democrático, E por isso, assistimos a todo um debate em relação à patente das vacinas e de como certos países não estão a ter uma resposta em relação às vacinas como outros tantos países. Ao fim de mais de um ano de Covid-19 também já foram efectuadas algumas análises relativamente ao impacto causado na perda de empregos e tem-se verificado, mais uma vez, que as pessoas portadoras de uma deficiência são aquelas em que o impacto tem sido mais significativo. Isto para além de todo um conjunto de dados que existem demonstrando que as pessoas dentro deste grupo são aquelas que já se encontram mais ameaçadas em relação a este direito - trabalho. No entanto, temos verificado que há um conjunto de contextos, que face ao impacto causado pelo Covid-19, tem ajudado a repensar acerca da importância de nos continuarmos a tornar mais e mais inclusivos. Estou a pensar principalmente na Academia. Até porque é um espaço por excelência de reflexão contínua. As universidades, face a esta situação do Covid-19 tiveram de enviar para casa os seus alunos e procurar adaptar todas as suas actividades de ensino online. Algumas destas mudanças, nomeadamente passar a ter as aulas por videoconferência, levou a que muitos alunos sentissem um conjunto de dificuldades, algumas delas com impacto no rendimento académico. Além disso, o facto de estarmos em confinamento levou a que muitos também sentissem um maior impacto negativo nas suas relações interpessoais e sociais e com resultados negativos na sua saúde mental. E agora estou a referir-me a alunos que têm um desenvolvimento normativo. Ou seja, não estou a falar de alunos que estão no Ensino Superior e referenciados para a Educação Inclusiva por serem portadores de alguma deficiência. O certo é que as Instituições de Ensino Superior foram forçadas a reformarem-se fundamentalmente em resposta à pandemia, especialmente para se tornarem mais receptivas às questões de saúde e segurança. E ao fazerem essas mudanças, foram sujeitas a uma oportunidade única de tornar as universidades mais acessíveis e inclusivas do que têm sido até agora. Isto porque apesar das universidades serem cada vez mais um espaço inclusivo, continuam ainda a debater-se com inúmeras dificuldades, nomeadamente ao nível da mudança comportamental de muitos dos seus recursos humanos, nomeadamente docentes e outro pessoa técnico. E devido à publicação do livro Lived experiences of ableism in academia - Strategies for inclusion in Higher Edecation editado pela Nicole Brown. Assim como o facto de estar cada vez mais envolvido com as universidades devido a ter um cada vez maior número de pessoas autistas em acompanhamento e que estão no Ensino Superior. Além de ter sido docente universitário durante alguns anos e continuar a fazer formação. Tudo isto junto levou-me a reflectir de como o contexto académico continuam a perpetuar o conceito de capacitismo. Este conceito que advém do Inglês ableism, significa a discriminação e o preconceito social contra pessoas portadoras de alguma deficiência. A ausência de qualquer deficiência é visto como o normativo e a presença desta observada como algo a corrigir. E no caso do contexto académico, este continua a perpetuar sistematicamente o valor de uma mente e corpo capaz, observando as pessoas portadoras de deficiência como menos dignas do que as pessoas com um desenvolvimento normativo. São ainda muitos os exemplos das barreiras existentes e da constante necessidade de ultrapassar obstáculos para garantir que possam simplesmente participar, quanto mais fazê-lo de maneiras que protejam a sua saúde e bem-estar. E neste ultimo ano temos observado um grande esforço por parte de todos em nos adaptarmos. No entanto, algumas das medidas tomadas, pensadas como necessárias para conter a situação de pandemia tem estado a afectar as pessoas portadoras de deficiência, atendendo ao impacto que estas alterações vieram causar. Seja o tornar determinados locais inacessíveis, lugares esses que onde as pessoas com acessibilidade reduzida circulavam. A impossibilidade de presença dos cães guia, o uso das máscaras, etc. Mas também tem sido possível verificar pela positiva que algumas alterações realizadas, como por exemplo, a possibilidade de gravar as aulas e disponibilizar as mesmas posteriormente para os alunos, tem sido uma mais valia para muitos, sejam aqueles com um desenvolvimento normativo, mas também para aqueles portadores de alguma deficiência. E se pensarmos, são muitos os alunos que têm histórias, todas elas antes do Covid-19, de grandes dificuldades ou até mesmo impossibilidade de adaptações, necessárias para garantir o seu direito à aprendizagem. E como tal, é visível perceber que a Academia consegue adaptar-se a estas e a outras diferenças e poder adaptar os processos de ensino-aprendizagem a um Desenho Universal para a Aprendizagem. Agora que parece estarmos a chegar a um ponto de melhoria face à situação do Covid-19 e que nos preparamos para um período pós-Covid, será importante reflectirmos em relação à importância de mantermos algumas destas medidas, além de podermos continuar a adaptar tantas outras no sentido de tornarmos o espaço universitário para tod@s.
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