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A cavalo dado não se olha o dente

A cavalo dado não se olha o dente, diz o povo. Mas se calhar deveria ser importante continuar a olhar pela sua saúde oral. Na verdade este ditado refere-se a outras coisas que não a saúde oral. E também não irei falar de equinos. E apesar de a minha área ser saúde mental e não oral, ainda assim, penso ser importante chamar a atenção para algo fundamental em todos nós.


Há alguns bons anos atrás grande parte da minha vida passou-se junto da Medicina Dentária e se há coisas que retive para além das boas amizades, foi a importância da manutenção de uma boa saúde oral. Além do facto que este tipo de cuidados não é igualmente fácil para todos. Por exemplo, alguns dos que estão a ler o texto se começarem a pensar no som da broca e na proposta de desvitalização de um dente, provavelmente irão sentir um arrepio. E quem tem crianças e já as começou a levar a fazer uma visita ao dentista e higienista oral já percebeu que nem sempre é fácil de manter a sua colaboração. Agora pensem que todas essas sensibilidades e outras dificuldades estão multiplicadas por mil. Ficam a saber que é aquilo que as pessoas autistas, sejam crianças, jovens ou adultos sentem ao pensar que têm de ir tratar dos dentes.


Seja a hipersensibilidade táctil, com o toque dos equipamentos e das próprias mãos dos profissionais de saúde oral. Ou as texturas de algum dos materiais ou pastas que têm de ser usadas. Mas também o ruído e a vibração dos próprios instrumentos. E não esquecer da maior sensibilidade à dor. Assim como a própria ansiedade que está em muito presente nas pessoas autistas. Esta é uma combinação explosiva para que muitas pessoas autistas não se desloquem aos dentistas e higienistas orais. E se pensássemos que as pessoas autistas têm todas elas excelentes hábitos de higiene oral e de prática de escovagem e que isso os protegia. Muitos de nós sabe que isso não é verdade. E como tal a saúde oral de muitas das pessoas autistas é bastante precária.


E por tudo isso, quantas vezes se vê uma mãe ou um pai a perguntar na internet se alguém sabe de um bom profissional desta área para trabalhar com crianças, jovens ou adultos autistas? Será fundamental que os profissionais da Medicina Dentária possam continuar a desenvolver esforços de investigação aplicada, nomeadamente junto desta população e que possam ajudar no próprio processo de informação e sensibilização para que desde cedo estes hábitos possam ser melhorados, mas de uma forma sempre adequada às necessidades das pessoas. E aqui volto novamente às questões sensoriais, em que as pastas dentífricas mas também as próprias escovas necessitam de ter uma variedade que também se possa adaptar às necessidades das pessoas autistas e que continuem a servir o propósito de ajudar na higiene oral.


As implicações de uma má higiene oral passa não apenas pela presença de cáries e outros problemas, mas também pela esfera social. Seja o cheiro produzido na boca e o impacto que uma boca sem cuidados de higiene oral tem na vida social. Sendo que a esfera social na pessoa autista já tem dificuldades que chegue. E não esquecer nos problemas que uma higiene oral descuidada tem ao nível da alimentação e dos problemas gastrointestinais. Áreas que as pessoas autistas mais uma vez também já têm com que se preocupar.


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