
Espectro de vivências
Excertos da vida de pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo.

R., 50 anos
R. é um professor universitário de filosofia que vinha a sentir um aumento de dificuldades no relacionamento social no seu local de trabalho. Sempre foi uma pessoa produtiva no seu trabalho académico, não obstante a sua luta diária durante muitos anos com a ansiedade e a depressão. O aumento das responsabilidades administrativas no seu departamento e o número crescente de reuniões parece ter aumentado as suas dificuldades com as tarefas sociais e de organização. A sua ex-mulher sugeriu que fosse avaliado para despistar Síndrome de Asperger (SA) ao que ele acedeu. O diagnóstico foi confirmado para SA, mas também uma Ansiedade Social e Depressão Major. Foi-lhe proposto uma terapia individual dirigida às suas dificuldades. No presente momento a sua filha está também a ser avaliada para despistar SA (…).

L., 38 anos
L. é uma mulher de 38 anos diagnosticada com Autismo. Vive sozinha num quarto que faz parte de uma casa para integração de pessoas com dificuldades intelectuais. Privilegia o seu tempo a sós e parece ficar menos tranquila quando está com os seus pares por um período maior de tempo. Desde criança que apresenta inúmeros comportamentos ritualizados e obsessivos e sempre insistiu em ter as coisas em lugares específicos. Trabalha em part-time numa loja de roupa na área do armazém. Quando chega a casa, percorre o frigorífico, prateleiras e outras áreas da sua casa para garantir que nada foi mudado de lugar. Gosta de criar menus de refeição, ler e desenhar acerca da vida selvagem e tem volumes de livros médicos que lê e relê de forma constante (…).

T., 40 anos
T. é um homem de 40 anos que se mudou recentemente para um apartamento de integração social dentro de uma instituição para pessoas com dificuldades intelectuais. Sitio onde ele próprio tem estado integrado desde os seus 4 anos de idade. Vive neste apartamento com mais três pessoas com uma supervisão de 24 horas. As suas refeições são preparadas e ele recebe assistência nas suas atividades diárias. Tem uma história de inúmeros episódios de autoagressão e tem beneficiado de um programa de intervenção comportamental para o ajudar a gerir os mesmos. T não fala, mas comunica através de alguns gestos e imagens. Apesar de ter noção da presença dos seus colegas de apartamento, na grande maioria do tempo, não demonstra interesse por eles. Foi-lhe diagnosticado, quando tinha 6 anos de idade, uma grave dificuldade intelectual e Autismo (…).

E., 19 anos
E. é uma jovem mulher de 19 anos, estudante universitária que se tem confrontado com várias dificuldades nas tarefas académicas. Estuda numa universidade afastada da sua terra de origem e tem sentido bastantes dificuldades na adaptação às rotinas do quotidiano. Gosta de ler romances de forma compulsiva. Ao fim de algum tempo procurou uma avaliação psicológica nos serviços da universidade. Foi-lhe referido a possibilidade de ter uma Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. Em criança foi-lhe diagnosticada uma Dificuldade de Aprendizagem Específica e beneficiou durante alguns anos de intervenção psicológica tendo sido integrada nas Necessidades Educativas Especiais. Apesar das dificuldades ao nível da socialização ainda mantém alguns amigos próximos que datam da infância. Foi conseguindo enfrentar as dificuldades sentidas nas relações sociais, principalmente durante o Ensino Secundário. Diz ter a noção que a entrada e continuidade na universidade apenas foi possível com ajuda profissional. Ao fim de algum tempo de intervenção na universidade foi-lhe diagnosticado SA (…).

Características
Diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo
"Sempre me senti diferente e não consigo compreender porquê!"; ou "Eu sempre tive dificuldade em compreender a intenção dos outros!". Estas e outras frases podem encontrar uma explicação no Espectro do Autismo.
A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é uma condição de surgimento precoce e que acompanha a pessoa ao longo do seu ciclo de vida. A sua natureza é neurobiológica e caracterizam-se por um compromisso na comunicação e interacção social, associado a interesses restritos e comportamentos repetitivos (DSM 5, 2013).
Muitos adultos com PEA ou com algumas características procuraram ajuda de médicos ou psicólogos que não conseguiram diagnosticar ou tratá-los adequadamente e assim experimentaram anos e até décadas de sofrimento.